Eles foram infectados pelo coronavírus. Sofreram muito, mas venceram a Covid

Eles foram infectados pelo coronavírus. Sofreram muito,  mas venceram  a Covid
Pai e filha: Fanuel Gomes Moreira e Patrícia passaram por maus momentos, mas se curaram. Foto: Gustavo Werneck/EM/D.A Press

Gustavo Werneck, Estado de Minas

Os polegares levantados de Patrícia, a filha, e Fanuel, o pai, indicam que o pior já passou – o pior, no caso, vem da dolorosa via-crúcis causada pelo novo coronavírus: internação, dias e noites no CTI (Centro de Terapia Intensiva), perda de parentes próximos e o sofrimento de ficar longe da família. Neste domingo de Páscoa, sinônimo de ressurreição, renascimento, vida nova, homens e mulheres vítimas da COVID-19 fortalecem sua fé, creem na ciência e falam da hospitalização recente, quando o setor de saúde, em Minas, entrou em colapso, o avanço da doença fugiu ao controle das autoridades, a Onda Roxa cobriu o estado impondo toque de recolher e o país registrou mais de 300 mil mortos.

A assistente administrativa Patrícia da Conceição Moreira, de 31 anos, solteira, está de quarentena e vem cumprindo religiosamente todas as determinações dos médicos que a atenderam, no mês passado, no Hospital São Lucas, em Belo Horizonte, onde ficou internada durante 18 dias (sete no CTI e 11 no quarto), sem necessidade de intubação. “Mas minha ansiedade quase me levou a esse procedimento. De tão ansiosa que sou, meus batimentos cardíacos chegaram a 180. Então o médico disse que, se eu não me acalmasse, seria necessária a intubação”, afirma Patrícia, formada em administração e agora cursando técnica de enfermagem e gestão hospitalar.

As palavras do médico soaram com a precisão cirúrgica para que a “mineira de coração e criação” natural de Taubaté (SP) reencontrasse o equilíbrio. “Não vou negar que passei por muito sofrimento, mas confesso não ter medo de nada. Sou filha única e só pensava nos meus pais…como eles estariam. Meu medo nem era de morrer, mas de que eles sofressem demais.”

Os problemas de Patrícia aumentaram em 3 de março, quando, depois de muita tosse e falta de ar, foi levada, de ambulância, para a unidade de Pronto-Atendimento (PA) de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde mora desde os 10 anos de idade com os pais Fanuel e Zilma. Do PA, com o quadro agravado, foi transferida para o Hospital da Unimed e depois o São Lucas. Estava, segundo ela, com 50% dos pulmões comprometidos. “Sou grata a toda a equipe do PA, do São Lucas e aos que rezaram por mim, a exemplo dos amigos, colegas de trabalho e até desconhecidos. Mas quem me tirou do hospital foi Nossa Senhora do Rosário. Fui rainha na Festa do Rosário e uso essa coroa com devoção. Devo tudo a minha protetora e a Deus”.

FAMÍLIA Se a fé saiu fortalecida, a família se encontra, como sempre, em primeiro plano. “Meus pais representam tudo para mim. Está na hora de valorizar mais tanto esse amor sublime como as coisas simples da vida”, diz Patrícia sem esconder as lágrimas ao se lembrar das perdas em apenas semana. Vítimas da COVID, morreram dois primos e um tio, que moravam na frente da casa dela. Também vizinho, outro tio morreu de câncer. “Minha prima ficou hospitalizada, e, graças a Deus, minha mãe, Zilma, não teve nada”.

Ao lado da filha, Fanuel Gomes Moreira, de 67, aposentado, lembra que outros parentes próximos morreram em São Paulo: “Está sendo um período difícil”. Fanuel foi o primeiro da família a contrair a doença que, em Santa Luzia, gerou cerca de 200 mortos. Durante 10 dias, a partir de 5 março, ele ficou internado no Hospital de São João de Deus, precisando de ventilação mecânica. Com o jeito mineiro, Fanuel se mostra bem tranquilo e, surpreendentemente, garante que só soube que estava com a doença ao deixar o hospital. “Agora estou muito bem. A máscara é indispensável”, avisa ao oferecer ao repórter uma esguichada de álcool em gel. Clique aqui para continuar lendo.

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