Gustavo Werneck
Luzias
Inteligência artificial, redes sociais, celular sempre à mão e vastos horizontes tecnológicos que se abrem diante de olhos cada vez mais surpresos. No novo mundo conectado por fios ou sem eles, as mamães, celebradas neste domingo, procuram se manter atualizadas, enquanto conjugam trabalho, educação das crianças e adolescentes, harmonia doméstica e outras tantas atividades profissionais e de casa.
Nesta reportagem para homenagear todas elas, cinco mineiras relatam suas histórias, citam os desafios no presente e no futuro, e, com muita emoção, revelam que nenhum avanço digital tem mais poder do que o sorriso, o abraço, a felicidade dos filhos.
No escritório, na sala, na cozinha, no quintal. A recém-nascida Liz está presente em todos os cantos da casa de Eduardo e Ana Alice: as três letras do nome se destacam na parede do quarto, os bichinhos de pelúcia se enfileiram perto do berço, as roupinhas balançam penduradas no varal, e, quando necessário, uma babá eletrônica se mostra sempre visível ao papai e à mamãe.
“Desde que minha filha nasceu, em 17 de março, nossa rotina mudou, e não poderia ser diferente. Agora, o tempo é todo programado em função dela”, conta Ana Alice Barros Costa, de 30 anos, natural de Sete Lagoas, na Região Central de Minas, e residente em Santa Luzia, na Grande BH.
Formada em marketing e trabalhando na área de serviços de comunicação digital, Ana Alice conhece bem o mundo tecnológico, sempre foi conectada nas redes sociais e, durante a gravidez, aproveitou bem os benefícios do universo virtual. “Sou prática, disciplinada, gosto de planejamento. Mas, diante dos perigos da COVID-19, procurei ficar mais em casa, e nisso a internet foi de grande ajuda, pois fiz vários cursos on-line de cuidados com o bebê, comprei todo o enxoval em sites de vendas e baixei um aplicativo que permite o acompanhamento de toda a gestação.
Contratada por uma empresa – sem vínculo empregatício, o que lhe permite trabalhar em casa apenas quando solicitada –, Ana Alice se vale de um dispositivo eletrônico para monitorar a menina de quase dois meses, quando ela está no quarto e os pais se encontram na sala, na cozinha ou no escritório da casa de dois pavimentos. “Foi minha irmã, Betânia, quem me emprestou a babá eletrônica, e gostei da ideia. Se Liz acorda ou chora, largamos tudo e vamos atendê-la”, explica Ana Alice, que ressalta o companheirismo do marido, Eduardo Lima, educador físico e dono de academia de ginástica. “Não temos empregada, então damos conta de tudo juntos.”
O fim da emergência da COVID-19, decretado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), trouxe tranquilidade a Ana Alice, que teve a doença há dois anos e tomou todas as vacinas a partir do momento definido pelas autoridades. “A gente fica mais aliviada, embora sem baixar a guarda, pois o coronavírus ainda circula, né.? Vivemos realmente num mundo novo, mas, mesmo com todos os avanços da ciência e da tecnologia, nada substitui o cuidado, o contato, o amor aos filhos. O afeto é o começo, o meio e o fim de tudo”, acredita a mamãe.
Fé e coragem
Já na capital, uma mineira nascida em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha, revela sua história de amor à família e dedicação aos filhos, sempre com o foco no trabalho e na união familiar. Coragem, força e fé não faltam a Anete Ferreira Martins, de 41, solteira, mãe de Esther, de 10, e David, de 2. Ela morou em São Paulo (SP) e retornou a Belo Horizonte, há um ano, para ficar mais perto da mãe, Maria de Fátima Lopes de Campos, de 66, e das irmãs.
“Sou de uma família grande, de oito irmãos. Se não fosse com a ajuda da minha mãe e de três irmãs, que moram perto de casa, seria difícil dar conta da criação dos filhos e de trabalhar”, diz Anete, que trabalha como auxiliar de serviços gerais. Neste domingo, ela espera que toda a família esteja reunida para celebrar o Dia das Mães. “Todas merecem.”
Moradora do Bairro Xodó Marize, nas proximidades da Catedral Cristo Rei, na Região Norte de BH, Anete conhece bem os desafios do novo mundo e consegue tirar de letra os que vão surgindo, afinal, está acostumada a transitar em tempos diferentes. Como assim?, pergunta o repórter sobre esses superpoderes maternos. Com bom-humor, Anete responde: “Tenho uma menina e um menino com idades bem diferentes. Para ir de um extremo ao outro, só mesmo com muito amor, lembrando a todo instante que cada um tem seu próprio tempo, está em uma fase da vida”.
Quando Esther veio ao mundo, a tecnologia já tinha firmado seus domínios, mas ainda bem longe de hoje, onde o celular, por exemplo, serve para resolver quase todos os problemas. “A Esther já nasceu nesse universo digital, o David, mais ainda, mas como conduzir isso? A gente precisa se atualizar a todo instante. Há muitos benefícios nos avanços tecnológicos, mas também malefícios.”
“Com a internet, podemos falar com o médico sem precisar ir ao consultório, pegar o resultado dos exames. Mas penso que o uso exagerado das redes sociais, especialmente para as crianças, pode prejudicar. Por isso, não deixamos a Esther ficar mexendo sozinha no celular. Quando está conectada, há sempre alguém por perto, daí ser muito importante o suporte da família”, afirma a mamãe, certa que, “com muita luta”, quer proporcionar aos filhos o que não pôde ter na infância e adolescência. “Sempre tive vontade de falar outros idiomas, e pretendo dar essa oportunidade a Esther e David.”
Católica, Anete usa a internet para fortalecer sua prática religiosa. “Se não posso ir à igreja, entro nas redes sociais para participar das missas, e sigo no Instagram pessoas que têm uma mensagem importante a divulgar. Dessa forma, vejo esse canal como forma de evangelização.”
Parceria de valo
Conciliar trabalho presencial, educação dos filhos, tempo no trânsito e outras mil tarefas diárias parece impossível aos olhos de muita gente. “Mas com planejamento, parceria do casal e harmonia familiar, tudo dá certo”, acredita Anna Loize Paiva Soares Fernandes, casada com Fabrício Gabriel de Oliveira, profissional de tecnologia da informação (TI), e assistente administrativa da Gerência de Cuidados Clínicos da Santa Casa BH. Hoje, o casal comemora o Dia das Mães com as filhas Alice, de 9, e Cecília, de 2.
A pandemia trouxe nova dinâmica e novas demandas às famílias. “Começo cedo no hospital, mas fico tranquila, porque meu marido está em casa, no trabalho remoto”, observa Anna, residente no Bairro Milionários, na Região do Barreiro, em BH. Em momento de intervalo no trabalho, ela se vale das chamadas de vídeo para falar com o marido, “que entende tudo desse mundo digital”, e as filhas. “Esse é um recurso muito importante, e me permite conversar, ver as meninas, enfim, manter contato. Toda mãe sabe logo se há algum problema pela voz e semblante da criança.”
Trabalhando num hospital 100% SUS e referência em Minas Gerais nos tempos da pandemia, Anna reflete que, se representou uma tragédia na história da humanidade, a COVID-19 impôs novo ritmo ao mundo, e, principalmente, às famílias. “Foram tempos difíceis, todos nós conciliando várias atividades. Dessa forma, a tecnologia, creio, ajudou no cotidiano. As crianças voltaram às escolas, e há várias tarefas online. São mudanças que vieram para ficar”.
O decretado fim da emergência, pela OMS, exige atenção. “Continuamos em vigília, vacinando, sempre atentos à saúde. Os filhos são nosso tesouro, não podemos vacilar em momento algum, principalmente em relação à saúde.”
Três é bom
No Bairro Bandeirantes, na Região da Pampulha, as empresárias Maria Emília Ribeiro Couri, a “mamãe Milla”, e Juliana Barbosa Neves Couri, a “mamãe Ju”, preenchem todos os espaços da casa e do coração com os trigêmeos Antônio, Ângelo e Maria Luísa, que completarão dois anos em 20 de junho.
“A casa é grande, eles vivem em meio ao verde, e nem ligam para televisão. Gostam mesmo é de brincar, correr, enfim, mostrar que são cheios de saúde e energia”, conta Juliana. “Posso dizer que esses primeiros anos têm sido de loucura e delícia. Loucura porque, quando cansam, os três querem vir para o colo das mamães. E delícia é estar juntinho, participar de tudo, amar com toda intensidade”, acrescenta a “mamãe Ju”, que gerou os bebês.
Na sala da casa, as crianças pulam, balbuciam as primeiras palavras, abraçam as mães e depois correm para o jardim. “Ficamos felizes ao vê-los assim, no meio da natureza. Com eles, usamos os recursos tecnológicos, só mesmo para ouvir música, que adoram. Para facilitar nossa vida, pois os meninos estão crescendo, temos um sistema de câmeras que monitora o quarto e outros cantos da casa”, conta a “mamãe Milla”.
As duas, casadas há dois anos, têm no Instagram a conta @mãesdetrigêmeos, que faz o maior sucesso. “Nunca sofremos preconceitos. Na verdade, recebemos muitos cumprimentos por termos trigêmeos”, diz Maria Emília. Sobre o futuro, ela reflete: “Inteligência artificial, robôs… essas inovações ainda me assustam. A melhor forma é a gente se atualizar e orientar bem os filhos.”
Ao lado, Juliana se emociona ao lembrar que, certa vez, quando Maria Luísa viu o rosto de “mamãe Ju”, durante uma chamada de vídeo para “mamãe Milla”, imediatamente abraçou o celular. Hoje, o Dia das Mães será comemorado com as avós Luciene e Ângela, e, à tarde, haverá uma surpresa preparada pelas crianças com a ajuda das babás.
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