Maya Santana, Luzias
Para nós de Santa Luzia que o amávamos tanto, ele era Boca Negra. Para o pessoal de Nova Serrana, a cidade dos sapatos que se encantou com ele e o adotou durante mais de 40 anos, era Saborella. Carlos Alberto Scaldini Garcia era assim, tinha o dom de cativar as pessoas e, com seu jeito afetuoso e brincalhão, fez história nas duas cidades. Aqui, deixou os amigos da juventude, companheiros das partidas de futebol, que nem o tempo nem a distância separou. Festejado onde quer que fosse, era em Santa Luzia que o ex-craque do Santa Cruz gostava de passar suas férias. Quis o destino que fosse entre luzienses seus últimos dias: morreu aos 67 anos, em 16 de março de 2017, depois de passar mal na antiga casa dos pais, na Rua do Serro, e ser levado às pressas para um hospital, em Belo Horizonte.
Exatamente um ano e meio depois de sua morte tão precoce, Nova Serrana, sua segunda casa, decidiu homenageá-lo dando ao estádio da cidade o nome de “Arena do Calçado Carlos Alberto Scaldini Garcia (Saborella).” A cerimônia de rebatizado do estádio será hoje, com início previsto para as 8h30m. Em seguida, será realizada uma partida de futebol em homenagem a Boca Negra-Saborella. Esta foi a forma que a cidade – onde chegou em 1975, casou-se com Maria do Carmo Amaral e teve Karina e Rafael, os filhos que amava acima de tudo -, encontrou de mostrar o quanto ele marcou sua passagem por lá. Como foi uma estrela do futebol, esporte que adorava, não haveria melhor maneira de homenageá-lo.
Saborella
Para mim, ele era Carlos. O amigo querido que conheci na escola e que permaneceu como um integrante da minha família. Minha mãe sempre se alegrava quando ele, com frequência, ia a nossa casa. Era simples, generoso e, mais que tudo, um ser puro. Um boa praça que conseguia, com seu constante bom humor, extrair o que a gente tinha de melhor. Era o mais extrovertido entre os filhos – queridos Geralda, José Maria, Paulinho e Serginho – dos saudosos Dona Lucy e José Garcia. Quando Karina, sua filha, me falou da homenagem de hoje, quis saber dela por que o Boca Negra de Santa Luzia tornou-se o Saborella de Nova Serrana. Ela explicou:
“Quando meu pai chegou a Nova Serrana, ele conheceu um moço chamado Zé Teba. Na época, esse Zé Teba limpava lotes e chamava dinheiro de saborella. Um dia, meu pai perguntou a ele se poderia limpar um lote dele. Zé Teba disse que limparia, mas só se tivesse saborella. Meu pai achou engraçadíssimo o jeito que ele falou e passou a chamá-lo de Saborella. Só que no Zé Teba não pegou. Uma tarde, Zé Teba avistou meu pai na rua e gritou ‘Ô Saborella’. E meu pai respondeu. A partir daí, todo mundo se esqueceu que ele se chamava Carlos e passou a chamá-lo de Saborella.”
Além de se sobressair no futebol também em Nova Serrana, ele chegou a escrever sobre o esporte para os principais jornais da cidade, mantendo, inclusive, uma coluna no Gazeta, com o título “Pitorescas do Saborella”. Sem nenhum alarde, fazia um importante trabalho social, ajudando várias famílias de baixa renda. Pela mensagem de alegria, vida e generosidade que passou, ganhou para sempre os nova-serranenses, que hoje, véspera da data em que completaria 69 anos, encontraram a melhor maneira de eternizá-lo.
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