Para lembrar os 100 anos que Dona Clara Carvalho Santana completaria neste 24 de junho, Dia de São João, com lua cheia, escolhemos o poema Para Sempre, de Carlos Drummond de Andrade, que expressa exatamente o tamanho da saudade, sempre maior, à medida que os anos passam e sua luz se aviva em nossa memória:
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Outro poema que nos traz sempre Dona Clara é este, Saudade, escrito por Elisa Santana:
Quando o meu pai morreu
Apesar de não ser mais tão moça
Me encolhi como uma menina
Me cobri com o manto da
Tristeza
Do vazio
E da dor
A lembrança dele quando me vinha
Me trazia
A generosidade
O amor
A saudade
Quando o meu irmão mais velho morreu
Eu fiquei estupefata
Achei a morte ingrata
Por ter convidado para uma dança
Um homem ainda novo
E achei o meu irmão bobo
Por ter aceitado a companhia
A lembrança dele quando me vinha
Me trazia
A reza
A saudade
A sensação da casa vazia
Quando a minha mãe morreu
Eu uma mulher mais que feita
Chorei
Corri a encher as jarras de flores
Cantei pra ela
Tomei chá de folha de laranja da terra
Acendi vela
E dela
Quando a lembrança vem
Me faz pensar que agora
Em algum lugar
Em algum dia
Em alguma hora
Eu tenho alguém que me espera
Elisa Santana é Atriz, ex-professora de Artes Cênicas da PUC/MG, autora de um livro de poesias (Os Peixinhos do Meu Pano de Prato) e lançou um CD (Soneto 88)em 2015.
2 Comments
Nenez
24 de junho de 2021, 09:40Mamãe!! Pedaço maior da nossa vida!
REPLYElzira Perpétua
24 de junho de 2021, 10:12Maya,
REPLYBelo texto que reaviva nossa saudade e as doces lembranças de Clara…
Elzira