Quando fui à casa de Vicente, há poucos dias, eu o encontrei no lugar que mais gosta de ficar: sentado na cadeira, à sombra de uma árvore, no terreiro da casa, na Rua Silva Jardim, perto do Icaraí, onde viveu uma vida inteira com sua querida Lilia – Maria de Barros. Quando me viu, acompanhada do fotógrafo Heli Lara Lima, abriu um sorriso: “Você é filha de Duca, né?” Foi a sua saudação. Mostrando que, chegando aos 100 anos de vida, neste domingo, dia 29, sua memória permanece firme. Não o via já há um bom tempo. Pergunto se ele está bem, e a resposta vem logo: “Tô bem. O mundo tá bom. Quem fala que tá ruim é porque não sabe viver.”
Vicente é dessas pessoas que todo mundo gosta, porque tem, e sempre teve, uma aura de paz, de quem está em contato consigo mesmo. Transmite paciência e bondade. Nasceu em 1918, quando o mundo assistia ao desenrolar da Primeira Guerra Mundial(28 de jul de 1914 – 11 de nov de 1918), que terminaria no mesmo ano, quatro meses depois de seu nascimento. Santa Luzia era um vilarejo. Ele cresceu ali e, antes de casar-se com Lilia, com quem teve sete filhos – Antônio, Francisco, José do Patrocínio, Maria Assunção(Nininha), Carlos Santana, Vicente e Messias -, por pouco não foi combater na Itália, para onde o Brasil enviou soldados, que lutaram contra forças italianas e alemãs, durante a Segunda Guerra Mundial. Vicente, então com 20 e poucos anos, havia servido o exército em 1940. E chegou a ser convocado para ir lutar na guerra. Mas já era final de 1944. O conflito aproximava-se do fim – terminou na Europa em maio de 1945. Felizmente,ele não precisou ir.
Casou-se, criou seus filhos e aposentou-se como ferroviário. Há até poucos anos, ia todos os sábados à missa celebrada às 10h, na capela do Hospital de São João de Deus. Hoje, ainda caminhando, mas com certa dificuldade, senta-se no terreiro, nos fundos da casa, e fica ali. Às vezes, como conta Messias, “ele pega o serrote e fica serrando madeira.” Mas a maior parte do tempo, passa conversando com um e outro ou simplesmente contemplando o seu redor. Cercado de todos os cuidados pelos filhos, principalmente Nininha, o centenário Vicente vive num mundo “bom”, protegido das agruras aqui de fora.
Será uma festa, neste domingo, quando toda a família se juntar para celebrar os seus 100 anos. Está sendo preparado um grande almoço, que vai reunir, não só os muitos familiares, pois Vicente tem netos e bisnetos, mas vizinhos e amigos. Completar um século de vida com saúde, lucidez e de bem com a vida é só para os iluminados. E Vicente quer continuar a seguir o caminho. Declara isso com todas as palavras: “Quero chegar aos 105 ou 106. Peço a Deus que me conceda isso.”
Parabéns, Vicente! E muito mais anos de vida pra você!
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