Chuvas mostram que projeto Cidade Jardim, no Vicente de Araújo, é uma tragédia anunciada

Chuvas mostram que projeto Cidade Jardim, no Vicente de Araújo, é uma tragédia anunciada
Rua do Comércio, no Bairro da Ponte, onde ficam agências bancárias, supermercados, padaria, muitas lojas e residências, se transformou também em rio caudaloso. Foto:Arquivo pessoal

As duas pontes sobre o Rio das Velhas foram interditadas Ninguém entra, ninguém sai de Santa Luzia pelas estradas convencionais. ( Leia mais abaixo a reportagem de Gustavo Werneck para o Estado de Minas sobre a situação no município neste domingo, 9 de janeiro). Numa nota, a Prefeitura divulgou que , nesse momento, a única via que dá acesso a BH e a São Bené é via bairro Bom Destino (Veja no final da matéria). Em meio ao caos que se formou, pois há água por todo lado, a Ong Solidariedade – Todos Juntos Sempre, – em novo endereço, Rua Nossa Senhora Aparecida, 88, bairro Idulipê -, está solicitando o apoio da população, no sentido de fazer doação de gêneros de primeira necessidade, produtos de limpeza e, principalmente, água mineral, que serão encaminhados aos desabrigados, em número crescente na cidade.

Luzias

As chuvas que caem sobre Santa Luzia neste janeiro de 2022, – já provocaram o transbordamento do Rio das Velhas, com alagamento de diversos bairros -, são uma dura mensagem para a Prefeitura, para a Construtora Residencial Emccamp e para os vereadores que defendem o fatiamento da antiga fazenda de Vicente de Araújo em quase 400 lotes, núcleo inicial de um bairro que receberia o nome de Cidade Jardim. O movimento Salve Santa Luzia, composto de moradores de várias partes da cidade, luta para que o local seja transformado em um parque e não em mais um conjunto habitacional, numa área visivelmente sem qualquer infra-estrutura. O alagamento do lugar é prova irrefutável que, se o projeto for levado adiante, a Rua do Comércio, na Ponte, uma das principais vias do município, e bairros como (Nova Esperança (Pantanal), Morada do Rio e outros desaparecerão, diante do agravamento e constância das enchentes, cada vez em maior volume, como você pode ver no vídeo:

O projeto da Emccamp, aprovado em vários departamentos da Prefeitura, embora ainda não esteja concluído o Estudo de Impacto Ambiental, EIA, da obra, prevê a elevação do terreno e construção de uma espécie de paredão, que conteria as enchentes na área da antiga fazenda, jogando toda a água para a outra margem do Rio. Isso atingiria em cheio a parte baixa, uma das mais antigas da cidade, com consequências imprevisíveis.

As imagens mostram que Santa Luzia não pode permitir que esse megaempreendimento inviabilize a cidade:

As águas que caem sobre a cidade há dias são um alerta: é preciso repensar a política de entregar Santa Luzia às empreiteiras. É preciso um maior planejamento.

A entrada da antiga fezenda de Vicente de Araújo está assim. Foto: Moradores
Casa na Rua Felipe Gabrich, que margeia o Rio das Velhas . Foto: Moradores

Santa Luzia está tomada pelas águas do Rio das Velhas

Gustavo Werneck, Estado de Minas

Ninguém entra, ninguém sai. Assim está a situação de grande parte do município de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com a cheia e velocidade do Rio das Velhas e seus afluentes, devido às chuvas que não param, a cidade, com destaque para o Centro Histórico, se encontra ilhada.

As duas pontes sobre o Rio das Velhas foram interditadas pela prefeitura local e Defesa Civil, e, portanto, não é possível trafegar do Bairro da Ponte para a Parte Alta; na Avenida Beira-Rio, que liga Santa Luzia à capital e à rodovia BR-381 e outras áreas que fazem a conexão com Belo Horizonte. Outra ponte, que seria alternativa, se encontra há muitos anos interditada.

A cidade transbordando, depois de dias de chuva intensa e contínua. Foto: Moradores

Bairros às margens do Rio das Velhas, a exemplo do Nova Esperança, estão tomados pelas águas. No chamado Pantanal, alvo de sucessivas enchentes, todos os moradores já abandonaram os imóveis: “Estamos aqui na igreja, colocamos tudo o que foi possível na parte de cima da casa. A água subiu um metro e meio, então é rezar para não chover mais. Nem a Defesa Civil está conseguindo chegar aqui”, disse uma moradora.

“Quero sair” 

Na manhã deste domingo (9/1), a equipe do Estado de Minas visitou algumas áreas de Santa Luzia e viu o desespero das famílias. Na Avenida Raul Teixeira da Costa Sobrinho, no Bairro Boa Esperança, as águas do chamado Córrego do Hospital, canalizado, subiram de tal forma que transformaram a via pública em um complemento do Rio das Velhas. “Vou ajuntar minhas coisas e partir para casa da minha irmã”, disse, com voz decidida, uma mulher que mora na parte “seca” da avenida.

A Rua do Comércio, no Bairro da Ponte, onde ficam agências bancárias, supermercados, padaria, muitas lojas e residências, se transformou também em rio caudaloso. “O quintal da minha casa e o dos parentes está todo coberto de água. Já tiramos tudo de dentro de casa”, contou uma moradora da Rua Felipe Gabrich. Do outro lado do rio, a área conhecida como Sítio Vicente Araújo, na Avenida Beira-Rio também está fechada e totalmente inviável ao trânsito.

Veja o vídeo feito por Beto Mateus:

Alternativa para Belo Horizonte

A Prefeitura de Santa Luzia informou que, no momento, o único acesso disponível para conectar a sede do município com a Parte Baixa da cidade, o distrito de São Benedito ou Belo Horizonte é via Bairro Bom Destino, cuja estrada de acesso está totalmente pavimentada.

“Para você que está na sede”, explica a nota da Prefeitura,”e quer chegar à Parte Baixa, faça o seguinte: Vá até a Igreja Matriz de Santa Luzia. Siga até o muro de Pedra. Pela Estrada do Bananal, chegue até o Bairro Bom Destino. Então, pela rodovia BR-381, vá até a Avenida Cristiano Machado, em BH. E aí pela Cristiano Machado acesse o São Benedito”.

Quem estiver na Parte Baixa de Santa Luzia e quiser chegar à sede municipal, deverá fazer o sentido contrário, passando pela BR-381 e então pelo Bom Destino.

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1 Comment

  • Maria Elisa Santana
    9 de janeiro de 2022, 18:41

    Terrivel tudo. É preciso que chova, que a cidade mergulhe no caos das águas do Velhas, para que as pessoas vejam que com a natureza nao se brinca. O projeto almejado pela EMNCAMP na área da fazenda de Vicente de Araújo é, de fato, "crônica de uma morte anunciada". #FORACIDADEJARDIM!!!

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