Três luzienses embarcam numa deliciosa viagem pela culinária da distante Finlândia

Três luzienses embarcam numa deliciosa viagem pela culinária da distante Finlândia
Luiz Gabrich e Marinês de Araújo prepararam o prato com os "frutos de raiz", como são chamadas em sueco as cenouras branca e vermelha

Gustavo Werneck, Estado de Minas

Não sei se foi atração à primeira vista ou o olho maior do que a barriga, como se escuta quando criança. O certo mesmo é que, depois de ver aquela página colorida, não perdi mais a esperança de, um dia, saborear o prato.

Explico melhor: estava eu numa viagem de trabalho, passando por uma rua de Helsinque, capital da Finlândia, quando vi uma revista de distribuição gratuita na loja do centenário mercado municipal à beira do Mar Báltico.Era fim do outono europeu, estava chovendo, fazia muito frio e a fome dava sinais de alerta no meio da tarde escura como noite.

Peguei a publicação com foco na gastronomia e guardei na mochila, pensando assim: ao retornar ao Brasil, vou dar forma a esta receita, que tem toda cara de salada e mistura legumes, frutas, folhas e nozes, com uma parte caramelizada.Já no hotel, fiquei imaginando, curioso, quais seriam aqueles ingredientes e o modo de preparar. Mas quem disse que eu conseguia entender uma palavra?

Frutas, legumes, queijos e nozes dão colorido à deliciosa salada

Como gosto de tudo artesanal, achei melhor não recorrer ao Google tradutor para decifrar o texto ou mesmo ativar o aplicativo que me permitiria ler apenas apontando a câmera do smartphone. Só sei que daquele dia até degustar o prato passaram-se sete meses, mas valeu a pena esperar com paciência.

SURPRESAS Ao voltar para casa, tive a primeira surpresa, pois descobri, por meio de uma amiga, que os textos da revista não estavam escritos em finlandês, mas em sueco, a segunda língua oficial do país nórdico. Então, no mês passado, de férias, me vali do aplicativo de tradução, embora alguns pontos se mostrassem bem confusos.

Decidido a não perder a “conexão de sabores”, convidei dois amigos de Santa Luzia, na Grande BH, o Luiz Gabrich, mineiro e cidadão norte-americano que trabalhou 15 anos num restaurante sueco em Nova York (EUA), e a cozinheira Marinês de Araújo, pernambucana “arretada” de Afogados da Ingazeira, que, pelo talento já demonstrado à mesa, sempre imprime um toque especial a qualquer receita.

A preparação meticulosa da salada pelo dois cozinheiros de mão cheia

Nós três fomos conversando, falando dos ingredientes, e citei um dos legumes, a cenoura branca, que havia procurado em vários locais, sem encontrar. Vale destacar que não se trata de cenoura amarela, mas a variedade branca, parecida com nabo. Assim, resolvemos dar uma tropicalizada na iguaria incorporando a brasileiríssima mandioca, cortada em fatias. E dando um toque mineiro, compareceu o nosso bom queijo do Serro. Posso garantir que a emenda ficou melhor do que o soneto, e o nome que batizamos rimou: Salada caramelada. A elaboração do prato transcorreu num clima de muitas conversas, mantendo- se, claro, o distanciamento social que os novos tempos pedem.

Luiz contou que no restaurante Aquavit, em Manhattan, conheceu entre o fim da década de 1980 e ao longo de 1990 grandes nomes da política, das artes e do mundo empresarial, entre eles a atriz sueca Greta Garbo (1905-1990), o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, e o tenor italiano Andrea Bocelli em animada mesa de amigos, incluindo a atriz Isabella Rossellini.

Marinês, também cheia de histórias, se divertiu bastante com a tradução do sueco para o português, e se esmerou para dar um sentido à receita, deixando-a bem “ao pé da letra”. E explicou: “Transformar palavras em sabor vira um desafio”.

O bom caminho está em seguir tudo direitinho, principalmente pesando os ingredientes para não dar errado. Mas nada é perfeito, né? “Sempre tem algo que não fica como está no papel.”

Finlandeses gostam de peixe cru em conserva, frutas, vegetais frescos e queijo

FRUTOS DE RAIZ – O charme do prato com os “frutos de raiz”, como são chamadas em sueco as cenouras branca e vermelha, está no caramelizado resultante do syrup (xarope extraído da seiva bruta de árvores do Canadá e Estados Unidos), produto que vem num frasco bem bacana e reutilizável e pode ser encontrado em supermercados do segmento premium. A etapa não só garante o diferencial como realça a combinação de sabores, textura, aromas e cores agradáveis a todos os sentidos, abrindo o apetite.

Como o preparo não dá muita mão de obra, embora o efeito encha os olhos, a salada faz sucesso nos momentos em que o importante é celebrar, e não ficar horas na cozinha. Num coquetel, por exemplo, pode ser servido com talheres ou simplesmente “beliscado” com o palito, para se aproveitar o queijo com a rúcula e o damasco e outras variações a gosto do freguês.

Luiz Gabrich explicou que a salada é ótima pedida para o brunch, pois é leve e alimenta bem. Quem comeu se lambuzou, sem trocadilho com o syrup. A travessa ficou bonita na mesa, e me trouxe boas lembranças da viagem que fiz a Helsinque, pelo Estado de Minas, a fim de participar, junto com jornalistas latino-americanos, de palestras sobre Cidades Inteligentes (Smart Cities), a convite do governo finlandês, via Ministério das Relações Exteriores/Departamento de Comunicação.

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