A cidade foi celeiro de craques, mas sem recursos e com estrutura precária, os times atuais lutam para manter o esporte vivo; o Yolandense, de São Benedito, chegou às semifinais da Copa Itatiaia deste ano.
Barbosa Chaves
Santa Luzia já teve importantes times de futebol amador, que atraiam grandes torcidas e formavam jogadores que fizeram carreiras brilhantes no futebol profissional. Os anos de ouro foram nas décadas de 1960 e 70, quando Santa Cruz, Frimisa e Santa Luzia comandavam o futebol local que, prestigiado, recebia visitantes ilustres, como o Vasco da Gama. Hoje a cidade ainda tem uma competição organizada pela Liga Municipal de Desportos. Mas sem recursos e com instalações precárias, o futebol luziense atual nem de longe lembra a era dos grandes craques que brilharam em gramados do mundo todo. Mesmo assim, alguns poucos times ainda conseguem se projetar no cenário futebolístico mineiro.
Campeão da primeira divisão de Santa Luzia em 2017, o Yolandense Esporte Clube, do Conjunto Palmital, em São Benedito, conquistou vaga para disputar a Copa Itatiaia 2017/18, o maior torneio de futebol amador do país. Conhecido pela raça de seus jogadores , o Yolandense chegou às semifinais da chave metropolitana ao derrotar o Brumadinho nos pênaltis em janeiro último. No ano anterior, o Ponte Preta também já tinha participado do torneio promovido pela Radio Itatiaia.
O Yolandense foi criado em 1992 como opção de lazer e esporte para as crianças da Av. Yolanda Teixeira da Costa, que corta o conjunto habitacional. Daí surgiu o nome da equipe, que não tem patrocínio e arrecada dinheiro com bingos e feijoadas. Apesar das dificuldades, chegou à principal disputa metropolitana de Minas ao vencer o Coimbra por um a zero, na final do campeonato municipal do ano passado, no campo da Frimisa. O gol da vitória foi de Pedrinho Nazaré.
– Vamos lutar para manter o mesmo padrão no campeonato deste ano, mas a disputa é desigual, porque os clubes da sede do município são mais estruturados – reclama Sandra Barbosa, presidente do Yolandense. O campo onde o time treina não tem vestiário nem alambrado. Esporadicamente, recebe doações de apoiadores, mas a presidente não especificou os nomes de quem ajuda a equipe. Para disputar a Copa Itatiaia deste ano, foi preciso recorrer a uma ajuda de emergência da Prefeitura. – A Câmara aprovou uma verba para que o clube campeão do torneio municipal pudesse disputar a Copa – explica Sandra.
Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, o time mantém atividades para crianças e adolescentes, uma espécie de categoria de base, de onde saem alguns atletas para a equipe principal. Outras agremiações de Santa Luzia estão em situação bem mais difícil. Muitas não têm dinheiro nem para o uniforme dos jogadores. Os jogos da primeira divisão começam no próximo dia 5 de julho, com a participação de 22 times, 12 de São Benedito.
Alvirrubro luziense
Mas nem sempre foi assim. Nos anos de 1970, Santa Cruz, Frimisa, Bangu, Santa Luzia, Baronesa, Barreiro, 16 de Março, Klabin e Celite disputavam um animado campeonato, que monopolizava a atenção da cidade. Os times eram bem organizados e maioria tinha campo próprio, treinadores e comissão técnica. O Frimisa, criado nos anos de 1950, quando o frigorífico que deu nome ao clube se instalou na cidade, era o mais temido, porque tinha as melhores condições de treino e o melhor campo. Foi campeão luziense em 74 e 76.
Já o Santa Cruz, era um time aguerrido e conquistou dois títulos em 72 e 78 com um escrete que incluía Boca Negra, na zaga, e Luizinho Quebra Vara, na ponta esquerda. Foi um dos melhores times de todos os tempos. E também o mais querido. O campo do Santa Cruz era ponto de encontro da juventude luziense.
– O futebol era programa obrigatório de domingo para a rapaziada da cidade – lembra Talardo José dos Santos, que, juntamente com Geraldo Martins, era diretor de futebol do Santa Cruz, na época áurea do time. – Era no campo que se faziam as grandes amizades que duram até hoje – acrescenta ele .
Na década de 1960, o Santa Cruz chegou a disputar a segunda divisão do futebol mineiro. E anos mais tarde, já na presidência de José Fernandes, conhecido como Zé do Posto, o time tornou-se uma das grandes forças do futebol luziense. Mas a história do Alvirrubro – como era conhecido – é bem mais antiga e remonta às primeiras décadas do século 20, quando Waldemar Augusto dos Santos, o Mário Pau de Fósforo, impulsionou as obras do estádio Bela Vista, localizado no bairro que acabou adotando o nome do time.
Celeiro de craques
Além do campeonato municipal, os times luzienses também participavam de torneios regionais, enfrentando equipes de Lagoa Santa, Vespasiano, Confins e Pedro Leopoldo, entre outros municípios vizinhos. Eram adversários temidos no futebol amador de Minas.
Com tanta atividade esportiva, não é de se estranhar que o futebol luziense tenha produzido craques que chegaram ao topo da carreira – a seleção brasileira. Foi o caso de Nívio Gabrich, que depois de passar pelo Santa Cruz, Atlético Mineiro e Bangu (carioca), foi convocado para o time que disputaria a Copa do Mundo de 1954.
Nívio, que sempre jogou na ponta esquerda, não chegou a defender a camisa da Seleção Canarinho porque o técnico preferiu convocar um goleiro extra para a Copa, mas foi um dos maiores jogadores luzienses e levou o nome da cidade aos grandes templos do futebol mundial.
– Ele foi titular absoluto do Atlético por seis anos – lembra a filha, Sandra Gabrich. E ressalta que Nívio foi artilheiro do Atlético, campeão mineiro em 1949, com 14 gols. – No ano seguinte, encantou os europeus na excursão do time pelo continente, marcando seis gols durante a turnê – acrescenta ela.
Mas Nívio não foi o único craque luziense a brilhar no panorama nacional e internacional. Pedro Luiz jogou no Atlético e no Vila Nova antes de ir para o Guayaquil, do Equador. Alison Reis foi campeão mineiro pelo Atlético em 1985. Romeu da Frimisa chegou ao Spartakus de Moscou. E em 1992, Ronaldo Luiz, que cresceu na Vila Santa Rita, entrou para a história do futebol brasileiro ao sagrar-se campeão mundial pelo São Paulo, em jogo disputado em Tóquio contra o Barcelona.
A lista de craques luzienses é grande. Vários jogadores se destacaram nos campeonatos municipais e muitos chegaram a times grandes de Minas e do Brasil. Mas sem patrocínio e com pouco apoio oficial, o futebol de Santa Luzia deixou de ser celeiro de grandes craques.
O único estádio bem conservado na cidade atualmente é o da Frimisa. Além dos campos do Yolandense e do Cristal Futebol Clube, fundado em 1965, no bairro Asteca, São Benedito tem outros espaços dedicados ao futebol, mas alguns sequer são gramados. Já o campo do Santa Luzia, da década de 1950, ainda sobrevive no bairro da Ponte, mas também funciona precariamente. Difícil acreditar que dali saíram os campeões de nove torneios de futebol. Fundado em 1930, o campo do Santa Cruz encontra-se hoje em péssimo estado de conservação e costuma ser alugado para peladas de fim de semana.
5 Comments
Sandra Aparecida
11 de abril de 2018, 21:28Linda a história do nosso futebol. O resgate talvez seja a.melhor forma para mudar esta história. Desejamos mais e melhor para Santa Luzia e o investimento na base talvez seja a única saída.
REPLYMarco Antônio Rodrigues dos Santos
12 de abril de 2018, 13:26Eu vi vários jogos no campo do Cristal e hj não tem mais o time só campo práticamente abandonado
REPLYLuciana
30 de abril de 2018, 22:28Papai nunca foi um atleta. Mas me lembro de todos os domingos… Eu e Guto no campo do Santa Cruz. Era nosso parque de diversão, enquanto ele jogava. Acredito que não sabíamos o quanto era importante aqueles minutos para ele.
REPLYCarlos@Luciana
4 de maio de 2018, 00:38Acho que sabia, sim, Luciana.
REPLYTim@Carlos
24 de agosto de 2018, 13:54Antigamente as pessoas tinham o prazer de ensinar gratuitamente a garotada jogar futebol, fazendo trabalho de qualidade, onde surgiam vários jogadores diferenciados. Hoje o jovem luziense não tem oportunidade porque além de pagar para não aprender, os que aprenderam alguma coisa não tem oportunidade de mostrar seu futebol, até mesmo porque visivelmente a administração que trabalha na área de esporte acredita que aqueles jogares de futebol acima de 30, 40, 50 anos acima possam tornarem profissionais ou é apenas um meio de adquirir verbas?
Sinceramente o tempo passa para todos e deveríamos dar um pouco mais de moral para os jovens que ainda sonham em alguma coisa, ao invés de ficarmos focados no dinheiro, matando a esperança daqueles que ainda sonham.
Reflitam!
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