Sem o emaranhado de placas, sinta o prazer de redescobrir nosso patrimônio

Sem o emaranhado de placas, sinta o prazer de redescobrir nosso patrimônio
As fachadas das construções ficaram à mostra depois da retirada de placas e cartazes

Gustavo Werneck, Luzias

Os moradores de Santa Luzia, na Grande BH, onde há joias arquitetônicas dos séculos 18, 19 e início do 20, já convivem com mudanças no visual do Centro Histórico e da Rua do Comércio, no Bairro da Ponte, definida como Área de Diretrizes Especiais (ADE).

Por iniciativa do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), cerca de 80% de engenhos publicitários (outdoors, letreiros e placas) foram retirados da frente de residências, lojas, bancos, supermercados e outros estabelecimentos comerciais.

“O resultado é muito bom, e quem ainda não se adequou vai responder judicialmente”, afirmou, ontem, o promotor de Justiça da comarca, Marcos Paulo de Souza Miranda.

Os ventos da transformação começaram a soprar no fim de setembro de 2016, quando Marcos Paulo iniciou sua atuação em Santa Luzia e se impressionou com a poluição visual no Centro Histórico sob tombamento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e do município.

Antes, as casas em frente da Matriz estavam com a frente assim

Diante da situação, decidiu providenciar um diagnóstico e pedir uma perícia, já que os engenhos comprometiam a paisagem urbana formada por sobrados em estilo colonial e casas em estilo eclético, totalizando 300 imóveis.

“A beleza da cidade estava escondida. O melhor é que estamos em uma nova fase, pois as pessoas estão pintando as casas e trocando as placas pelas padronizadas. Quem atendeu à nossa orientação está ajudando a fiscalizar e pedindo que os demais cumpram a lei”, afirma o promotor de Justiça.

Atento, ele descobriu que desde as décadas de 1980 e 1990 Santa Luzia tem legislação específica, incluindo o código de posturas, plano diretor e lei complementar, sobre a instalação de engenhos publicitários. Só faltava o cumprimento da lei”, explica Souza Miranda.

A Rua do Comércio, na Ponte, já dentro das normas – Foto: Cristielle Andrade

Em março do ano passado, o Executivo municipal editou o Decreto 31/97, fixando o prazo de 10 meses para cumprimento da legislação, com notificação das três centenas de residências e pontos de comércio.

Adesão
Para envolver a comunidade no projeto, ocorreu uma audiência pública dois meses depois, em maio de 2017, no histórico Solar da Baronesa, na Rua Direita, com participação de autoridades municipais e representantes de entidades ligadas ao comércio e à cultura.

“Houve adesão voluntária e, ao terminar o prazo, nova fiscalização”, diz Souza Miranda. Como muita gente não se adequou, foram dados mais 30 dias. Agora, faltam 20% dos imóveis e, por isso, o MPMG vai entrar com ações judiciais. “Bancos e grandes supermercados colaboraram, e até uma grande drogaria que foi inaugurada na Rua do Comércio vai colocar a placa dentro do padrão.”

A Avenida Brasília, em São Benedito, também está na mira do Ministério Público

O presidente da Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, Adalberto Mateus, acompanha e apoia as ações da 6ª Promotoria de Justiça: “Vemos com muito interesse, pois são necessárias para valorizar o patrimônio luziense.

Com isso, outras medidas poderão vir em seguida para readequar e revitalizar o espaço urbano que é o retrato de mais de dois séculos de nossa história. Sem dúvida, o patrimônio é nossa principal peça de publicidade”.

São Benedito
O foco está dirigido também para a Avenida Brasília, no Bairro São Benedito, no distrito de mesmo, e onde há grande concentração de lojas, muitas de grandes redes. “Nessa região, há um caos urbano e vamos desenvolver as mesmas estratégias desenvolvidas no Centro Histórico de Santa Luzia e na Rua do Comércio”, adianta o promotor de Justiça.

Esta reportagem de Gustavo Werneck foi publicada no Estado de Minas, em 02 de junho de 2018

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2 Comments

  • Eduardo Freitas
    2 de junho de 2018, 19:33

    Atitude extremamente necessário, porém gostaria do mesmo empenho do ministério público, com relação a liberação do viaduto que passa por cima da Av José Pedro de carvalho, penso que além do desvio de verbas e o casto de dinheiro público e um absurdo este viaduto interditado!!!

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  • Luzia Pedro de Alcântara
    4 de junho de 2018, 19:58

    Amei o resultado da limpeza visual, gostaria muito que acontecesse em Ouro Preto que tem este mesmo problema, são casarões lindos e quando tiramos uma foto aparece um montão de placas, poluindo os belos casarões. Justiça para nosso passado. Parabéns aos Luzienses.

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