ONG oferece cursos gratuitos e dá nova vida ao tão carente Córrego das Calçadas

ONG oferece cursos gratuitos e dá nova vida ao tão carente Córrego das Calçadas
Rosa Werneck, agachada, no centro, rodeada dos que tornaram a Solidariedade possível

Luzias

Costumo dizer que com boa vontade, tudo acontece. Quando se soma boa vontade, determinação e idealismo o resultado é uma capacidade de realização sem limites. A advogada e professora Rosa Werneck, 53, enquadra-se perfeitamente nesse perfil. Irrequieta, tem uma força invejável de trabalho. Ela acaba de inaugurar a sede da Ong “Solidariedade, todos juntos, sempre”, no Córrego das Calçadas (cujo nome oficial é Bairro Quarenta e Dois) , oferecendo aulas gratuitas para crianças, jovens e adultos de todas as idades que desejam ser alfabetizadas ou querem aprender português, redação, espanhol, francês, inglês crochê e corte e costura. Espanhol é o curso mais procurado – tem até fila de espera. A Ong, que abriu suas portas há menos de dois meses, no final de maio, já conta com mais de 200 matrículas.

Só quem conhece a geografia de Santa Luzia pode entender a dimensão e o alcance desse trabalho desenvolvido por Rosa com a ajuda de uma legião de anjos de luz – os voluntários, sem os quais a Ong não teria como operar. O bairro escolhido foi o Córrego das Calçadas, um dos mais pobres de Santa Luzia, tristemente conhecido pelos altos índices de violência. É um lugar, como tantos outros na cidade, que sofre de todo tipo de carência. Daí a importância da Ong Solidariedade estar inserida no centro dessa localidade tão desassistida.

Antigo posto de saúde agora serve de sede da Ong Solidariedade

Profundo impacto

Com suas várias salas e boa estrutura, a “Solidariedade…” funciona na Avenida Duque de Caxias, 70, em instalações antes utilizadas como posto municipal de saúde. O prédio, pintado de branco, com portas, janelas e barrado azuis, era arrendado à Prefeitura. Foi desativado e voltou às mãos da Igreja, proprietária do lugar. Foi a Igreja, através do padre Danil, que cedeu a construção para que sirva de sede da Ong.

Embora tenha sido instalada há tão pouco tempo, a Solidariedade já está causando enorme impacto no bairro. Como funciona de manhã, de tarde e de noite, e suas portas estão sempre abertas, há um constante entra e sai de alunos e de gente da redondeza. “Só agora estou tendo oportunidade de estudar. Essa escola é tudo na minha vida. Às vezes, fico pensando que foi Jesus que mandou”, diz a baiana Agda Pinheiro Rosa,72, moradora de Santa Luzia há 20 anos, sentada na carteira, aguardando o início da aula de alfabetização. Religiosa, ela conta que está aprendendo “para poder ler “a palavra do Senhor.”

Sala cheia de alunos querendo aprender espanhol

Ler e escrever
Outra dona de casa, Nedina Rosa dos Santos, 62, sentada ao lado de Agda, só nessa altura da vida está conseguindo frequentar uma escola. E mostra abertamente sua alegria por estar aprendendo a ler e escrever. “Isso é o que mais quero”, diz, enquanto se ajeita na carteira, porque a aula de Sandra Leal está para começar. Como professora voluntária, Sandra é uma das que têm papel importante na Ong, pois se dedica a auxiliar pessoas mais velhas a adentrar o maravilhoso mundo da escrita e da leitura.

Converso um pouco com Maria Bernardina, 59, também lidando pela primeira vez com as letras e os números, quando chega Oduvaldo Ant\õnio Pereira,62, aposentado, que frequenta as aulas de espanhol. Por que ele vem de tão longe – bairro Bela Vista – para aprender espanhol? “Porque tenho muita vontade de ir a Cuba. Quero aprender mais sobre o socialismo,” confessa ele.

Família de voluntários

Aos 10 anos, Cecília é um exemplo: leciona inglês para crianças entre 5 e 12 anos

O mais bonito nessa história é que, se há muita gente ávida por aprender, também há muitas pessoas, como Sandra Leal, que se voluntariam, doam seu tempo e se dedicam a ensinar, sem receber qualquer remuneração. É o caso da família Andrade. Amauri Andrade, pai, engenheiro; Merilin, mãe, estudante de psicologia; e Cecília, filha, de 10 anos, todos dão aula na Ong. Encantador ver a seriedade da pequena Cecília, quando ela explica: “Dou aula de inglês para crianças entre cinco e 12 anos.” O desejo de ser útil, de se entregar a causa sociais, dá para ver, está no DNA da família.

São muitos os que ajudam Rosa Werneck a levar adiante o seu antigo sonho de criar uma escola onde todos possam estudar. Da mesma maneira que a advogada, os que a auxiliam nessa tarefa têm um forte compromisso com o social, como Elenice Oliveira, a dedicada professora de redação. Bruno, professor de teatro e espanhol; Jéssica, psicóloga, José Roberto, Rita, Malu, Mariângela, Gabriel Árabe, Marli Avelino, Adelino Avelino, Rodrigo Avelino e tantos outros. Gente que merece ser aplaudida de pé.

Rosa em um jantar realizado recentemente para angariar fundos para a Ong

Tal mãe, tal filha
Encarnando o espírito da grande educadora Ephigênia de Jesus Werneck, sua mãe, Rosa demonstra abertamente seu contentamento com o trabalho na Ong. Fala com entusiasmo da parceria que a Solidariedade firmou com o Gada, grupo de adoção criado por Roberta Orzil e Ana Flávia, e dos muitos eventos que planeja realizar. Um deles será neste sábado, 7 de julho, às 16h: palestra sobre “como lidar com o estresse, a ansiedade e a conquista da saúde”, ministrada pelo psicólogo Gandhi Trópia, filho do conhecido professor Wilson Trópia. A palestra será gratuita. Qualquer pessoa que se interessar pode participar, desde que se inscreva, através do whatsapp (31)99782-1246.

Rosa fala de um sonho realizado: “Um dia, ainda bem pequena, eu disse para minha mãe: eu ainda vou ter a minha escola.E, agora, com a ajuda valiosa de muita gente, consegui. Vejo um futuro maravilhoso, de muito trabalho frutificado, para a Solidariedade. Sou profundamente grata. Eu me sinto plena.”

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4 Comments

  • rosa maria de jesus werneck
    4 de julho de 2018, 16:44

    Querida, Maya, você retratou com maestria nosso sonho. Linda matéria que tenho certeza vai deixar todos com olhos cheios de lágrimas. muito obrigada, beijos, Rosa

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  • Sandra
    4 de julho de 2018, 19:24

    Rosa foi minha professora de Geografia no antigo CNEC , adorava suas aulas e hoje vejo o quanto ela fez a diferença em minha vida e fará na vida das pessoas desse bairro. Que Deus proteja a todos que fazem essa ONG funcionar.

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  • Priscila caixeta silva
    18 de setembro de 2020, 07:10

    Eu gostaria fazer curso de idoso

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  • Maria de Lourdes Bahia
    5 de janeiro de 2021, 14:17

    Eu e minha mãe, agradecemos todos os dias, pela ajuda de vcs, muito obrigada por tudo.

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