Luzias
Moradores de Santa Luzia estão desesperados, tentando de todas as maneiras impedir que a construtora Enccamp, com a aprovação da Prefeitura e de 16 dos 17 vereadores – a exceção é o vereador Glayson Johnny – construa um conjunto habitacional na antiga fazenda de Vicente de Araújo, à beira do Rio das Velhas.
É um projeto concebido por quem mora fora da nossa cidade e não tem qualquer compromisso com as consequências desastrosas da construção de mais de 500 habitações na única área verde da região central.
Além disso, especialistas alertam: se levado adiante, por causa das enchentes cada vez mais violentas do Velhas, o empreendimento destruirá os bairros da parte baixa do município.
É inacreditável que, mesmo com a tragédia ambiental que estamos assistindo no Rio Grande do Sul, a ganância e a falta de consideração com os moradores continuem norteando as ações dos que, ao contrário, deveriam cuidar de Santa Luzia, com seus mais de 200 mil moradores, um lugar carente de tudo que uma boa cidade deve ter.
Precisamos todos participar da reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, na quinta-feira, 27 de junho, às 9h, no teatro, na Rua Direita, para convencer os membros do Conselho a não darem a aprovação final a algo tão prejudicial à cidade.
Abaixo, o texto lido pelo professor e antigo morador de Santa Luzia, João Bosco Gabrich Giovannini, no plenário da Câmara Municipal, no dia 28 de maio:
Prezados vereadores, representantes do povo de Santa Luzia,
Vou começar minhas palavras com dois recados, ou, melhor dizendo, dois alertas. Coincidentemente, diante da ameaça pela qual passamos, em uma revista de circulação nacional, em sua capa, aparece o primeiro deles: “Tragédia anunciada – inundações, mortes e pessoas que perderam tudo. O cenário de destruição no Rio Grande do Sul vai se repetir por lá e em outros lugares do país, caso as autoridades continuem sempre se movendo depois que as chuvas caem”. O outro, em um jornal, também de circulação nacional: “Recado das águas”.
Imagino que os senhores já tenham associado esses alertas ao que pode ocorrer em nossa cidade, caso se concretize o empreendimento imobiliário chamado de Cidade Jardim. Santa Luzia tem passado por um processo crescente de especulação imobiliária, principalmente nos bairros da região central, embora tenha uma grande extensão de área em seus arredores que poderia ser ocupada.
Neste momento, vou me ater ao projeto Cidade Jardim, por ser ele a maior ameaça que nos aflige agora. Estão em risco um patrimônio cultural da cidade e, sobretudo, a vida de muitas pessoas.
Além dos dois dos alertas já mencionados, há ainda um terceiro, este um recado bem específico da nossa realidade. Em 2022 ocorreu mais uma enchente de grandes proporções no Rio das Velhas, já bastante assoreado e sem condições de absorver o volume das águas de chuvas.
Trouxe enorme prejuízo, principalmente para os moradores da parte baixa da cidade, inclusive para o comércio local. Felizmente não houve mortes, só perdas materiais. Falo dos riscos iminentes como quem já passou por várias experiências com as inundações, uma vez que morei durante muitos anos na Rua Felipe Gabrich, um dos alvos das águas. Nossa família e muitas outras já tiveram de abandonar às pressas suas casas, sem poder levar nada, uma vez que as águas, quando sobem, chegam de maneira repentina e ameaçadora.
O desmatamento desse nosso patrimônio cultural é outra séria ameaça: como se sabe, as regiões ribeirinhas, notadamente as que sofrem com os problemas de enchentes, possuem as chamadas áreas esponja, entre elas os parques, que funcionam como bacias de retenção e absorção das águas das enchentes. É por causa dessas áreas, às margens do rio, que ainda não tivemos uma tragédia maior.
E esse risco aparece agora, como uma grande ameaça, com a construção desse empreendimento, ironicamente chamado de Cidade Jardim.
Árvores centenárias, muitas de preservação, serão cortadas e o solo que absorve grande parte das águas das enchentes perderá, evidentemente, sua permeabilidade e ajudará a empurrar as águas para o outro lado do rio. Ou seja, para a destruição, principalmente, da parte baixa da cidade e, sobretudo e infelizmente, para a perda de vidas preciosas.
Diante do exposto, senhores vereadores, esperamos que os senhores, como nossos legítimos representantes, atendam ao pedido de socorro da população luziense e vetem esse projeto ameaçador.
Além dos alertas e recados já mencionados, tenho ainda um último, sendo este o meu recado, em nome dos luzienses: em vez de serem lembrados como membros de uma Câmara Municipal que contribuíram para a destruição de um patrimônio cultural e para a morte de vários cidadãos luzienses, que os senhores sejam reconhecidos como seres humanos que, com sua atitude, salvaram nosso dom mais precioso: a VIDA.
Em tempo: em audiência com o prefeito, sugeri que o local fosse destinado a um parque municipal. Ele disse que a Prefeitura não tem dinheiro para a desapropriação. Sugeri, então, que se fizesse uma parceria com as mais de 7000 empresas com CNPJ cadastradas na Associação Empresarial de Santa Luzia. Fica a sugestão: salvaremos vidas e um patrimônio cultural e teremos nosso primeiro parque municipal.
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