Colégios estaduais de SL voltam às aulas

Colégios estaduais de SL voltam às aulas
Alguns dos professores da Escola Estadual Professor Domingos Ornelas, um dos educandários que aderiram à greve

Redação do Luzias

Quando a gente presta atenção na situação dos professores é que tem a real dimensão dessa crise que vem desconstruindo o Brasil. Os professores que trabalham em escolas do Estado acabam de suspender a greve iniciada em 8 de março, mas permanecem em “estado de greve” até que o governador Fernando Pimentel cumpra os acordos feitos com a categoria, descumpridos nos últimos anos. Das 22 escolas estaduais de Santa Luzia, 16 aderiram à paralisação total ou parcialmente. E em todas elas as aulas serão retomadas normalmente nesta segunda-feira, 23 de abril.

Na manhã de quarta-feira, 18 de abril, o Luzias esteve no Professor Domingos Ornelas – Prodor, um dos colégios que participaram da paralisação, conversando com professores, alunos e mães de alunos. Eles se preparavam para participar, em Belo Horizonte, da assembléia cuja decisão resultou na suspensão da greve. Uma das mães disse que estava ali para emprestar solidariedade à luta dos professores. Havia vários grupos de alunos que, mesmo durante o movimento, decidiram ir ao colégio para estudar uns com os outros. A preocupação deles era que as aulas demorassem muito a voltar e ficassem prejudicados nas provas do Enem.

Luta sem fim
É só tomar conhecimento do que os professores estão reivindicando para que se tome partido da classe. Em Santa Luzia, há muitos professores em situação difícil: boa parte está recebendo o salário em parcelas – quem ganha até três mil reais recebe integral; quem ganha até seis, em duas parcelas; e quem tem salário superior a seis mil, diretores, professores com mais tempo de casa, em três parcelas. Este mês, por exemplo, o governo só pagou a primeira parcela no dia 13. Os casais em que o marido e a mulher são professores estão tendo ainda mais dificuldades para honrar seus compromissos financeiros.

O pior é quem fez empréstimo consignado. O desconto é feito no salário do professor ou professora, mas o governo estadual não repassa para os bancos. Resultado, muitos deles entram no cadastro de maus pagadores, pois estão tendo os nomes enviados para o Serasa – ou seja, ficam com o nome sujo ou “negativado“. Uma injustiça que os professores lutam de toda forma para corrigir.

Durante a greve, grupos de alunos se reuniram no Prodor para estudar uns com os outros

Sem tratamento
Minas Gerais é o segundo estado do Brasil mais endividado, depois do Rio de Janeiro, que está literalmente se desintegrando por falta de recursos. Minas vai seguindo pelo mesmo caminho. Até a merenda dos estudantes está sendo prejudicada. Para tornar a situação dos professores ainda mais insuportável, essa penúria do estado afetou em cheio o sistema de saúde. Hospitais, como o Vera Cruz e outros, passaram a não atender mais os professores. Vários deles foram forçados a interromper tratamento contra câncer. Outros, estão pagando exames e consultas com especialistas do próprio bolso, como o caso da professora de Geografia Cizina de Oliveira Souza e Silva. Há 24 anos ela leciona a matéria. Curou-se de um câncer. Mas precisa fazer controle. Agora, está pagando pelo atendimento médico e pelos exames.

Quando o governador Fernando Pimentel assumiu o cargo de governador, em 2015, houve muita esperança que ele, como ex-professor, conhecedor profundo das mazelas da profissão em Minas, daria à categoria melhor remuneração e condições de trabalho menos duras. No ano em que assumiu, Pimentel cumpriu o acordado com a classe. Antes dele, Minas ignorava a lei federal que determina o pagamento do piso nacional para os professores. Atualmente, a categoria ganha em torno de 400 reais a menos do que o piso nacional. O governador prometeu dar reajustes anuais de forma que, em 2018, a classe estaria recebendo o piso. A promessa só foi cumprida no primeiro ano de seu mandato.

Reivindicações
Um dos panfletos distribuídos pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação da Rede Estadual de Minas Gerais, Sind-UTE/MG, afirma: “Os profissionais da educação reivindicam que o Governo Pimentel cumpra os acordos assinados em 2015 e 2017, respeitando a Lei Estadual2.710/15, que garante o pagamento do Piso Salarial Nacional instituído pela Lei nº 11.738/2008 nas carreiras de todos os trabalhadores e todas as trabalhadoras em educação da rede estadual de Minas Gerais. O governo está devendo dois reajustes, que estão previstos em lei, mas não foram cumpridos.”

Além dessas reivindicações, os professores lutam contra o parcelamento dos salários, o parcelamento do 13º salário em quatro vezes e contra a suspensão das nomeações em concursos. Também reivindicam pagamento de progressões e promoções, a regularização da situação com os hospitais que atendem a classe e ainda da situação dos professores aposentados, que estão sem receber seus direitos há anos.

Na decisão de retornar ao trabalho, ficou acertado que os professores não vão repor as aulas que deixaram de ser ministradas nesse um mês e meio de greve. Isso só deve acontecer, segundo a professora Cizina Souza e Silva, quando o governador Fernando Pimentel atender as exigências da categoria.

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