Sinos de Minas dobram em tributo às vítimas da Covid-19 e em apoio aos profissionais-heróis da saúde

Sinos de Minas dobram em tributo às vítimas da Covid-19 e em apoio aos profissionais-heróis da saúde
Para a aposentada Marlene Santos, o toque dos sinos leva sinal de esperança à luta contra o vírus, além de ser meio de comunicação. (foto: Jorge Lopes/EM/D.A Press)

Gustavo Werneck, Estado de Minas

Badaladas pela esperança, em memória dos mortos, no apoio aos profissionais de saúde e no tom da solidariedade às famílias enlutadas. Em Minas Gerais, no momento da morte provocada pelo novo coronavírus, na aplicação tão esperada da vacina ou na escalada das contaminações, os sinos das igrejas centenárias pontuam a dificuldade dos tempos e trazem no bronze um toque de confiança. Na tarde de domingo, no Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia, na cidade de mesmo nome da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o badalar ecoou às 15h, durante 10 minutos, acompanhado das orações de abertura do Setenário das Dores de Maria Santíssima (21 a 27), que antecede a Semana Santa.

Veja que bonito:

O convite às preces, pelo fim da pandemia partiu do titular da paróquia e reitor, padre Felipe Lemos de Queirós. O município atingiu, na sexta-feira, a marca de 200 mortos por COVID, além de cinco óbitos sob investigação, e os leitos hospitalares destinados ao tratamento de pacientes com a doença respiratória chegaram ao limite.

“Durante a quaresma, o toque é sempre fúnebre, com exceção do dia 19 de março, que é festivo em louvor a São José”, explicou o pároco, destacando que “quando o sino de bronze ecoa, representa a voz de Deus”. Em tempos da Campanha da Fraternidade, este ano ecumênica, padre Felipe disse que o chamado para rezar, na “hora da misericórdia (15h)”, foi para todo mundo, independentemente da religião. “Além das orações, esse toque de hoje (domingo) alerta para que todos continuem usando máscara de proteção, evitando aglomerações e higienizando as mãos”.

Moradora do Centro Histórico de Santa Luzia, a aposentada Marlene Moreira dos Santos rezou para que tanto sofrimento tenha um ponto final. “Nós, luzienses, trazemos a luz nesse nome, então o toque do sino significa um sinal, uma luz de esperança na pandemia”. Para o sineiro Henrique Barbosa, de 20 anos, valeu o esçforço. “Estou acostumado, pois toco o sino há sete anos. Estamos atravessando momentos difíceis, mas a fé é maior do que o medo.”

Alívio
Em 19 de janeiro, quando foi aplicada a primeira vacina contra COVID-19 em Ouro Preto, na Região Central de Minas, os sinos das igrejas barrocas tocaram efusivamente. Mas se dobram de alegria, as badaladas podem comunicar também a morte de pessoas conhecidas na cidade, em especial das irmandades religiosas. Quando o Brasil chegou aos 100 mil mortos pela COVID-19, em 15 de agosto, ao meio-dia, houve toque de sinos em muitas cidades brasileiras sinal de pesar, solidariedade às famílias e homenagem aos profissionais de saúde.

A iniciativa foi tomada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo-Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Com o avanço acelerado da doença no país, que tem mais de 290 mil de mortes por COVID, a iniciativa deverá se repetir.

Atencipando-se à Semana Santa, sino da Igreja Matriz de Santa Luzia, na Grande BH, tocou por 10 minutos no domingo em intenção às vítimas do coronavírus. (foto: Jorge Lopes/EM/D.A Press

Vida
No interior mineiro, o toque dos sinos atravessa os séculos com eficaz poder de comunicação, pontuando a vida religiosa e social. Em vários municípios, há também o aviso no alto-falante da igreja matriz ou um carro de som pelas ruas anunciando falecimentos.

Em São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, o toque do sino leva à população o aviso sobre mortes e sepultamento nos cemitérios das igrejas Mercês, Carmo, São Francisco e São Gonçalo, conta o padre Geraldo Magela da Silva, pároco da Catedral do Pilar, no Centro Histórico da cidade. “Há vários tipos de toque que chamamos de linguagem dos sinos. Quem ouve entende imediatamente a informação”, explica o pároco.

Os sinos marcam também o histórico distrito de Cachoeira do Brumado, em Mariana, na Região Central do estado. “No primeiro momento da pandemia, houve toque de sino, sempre às 18h, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição. O objetivo é chamar a comunidade para rezar o terço em memória das vítimas e famílias”, diz o administrador paroquial, padre José Geraldo Coura, conhecido como padre Juca. “Basta começar o toque para as pessoas ficarem atentas. Muitos ligam para paróquia querendo saber o que está acontecendo.”

Em Santa Luzia, a comunicação de mortes se faz com o anúncio fúnebre transmitido pelo serviço de som do Santuário Santa Luzia e das paróquias. O aviso começa com a música Ave Maria seguindo-se o comunicado. “Só de ouvir os primeiros acordes, a gente fica pensando: Quem será? Informação é importante, mas traz a tristeza, ainda mais essa época. Infelizmente, como temos ouvido essa mensagem nesses tempos de pandemia!”, diz a aposentada Marlene Moreira dos Santos.

À espera
No município vizinho de Sabará, os sinos estão mudos e devem continuar assim até mesmo na Semana Santa, diz José Bouzas, diretor de Patrimônio da Ordem Terceira do Carmo, irmandade religiosa que completa 260 anos em 2021. “Esperamos que eles voltem a dobrar, e muito, somente quando terminar a pandemia do novo coronavírus. Esperamos que seja em breve”, afirma Bouzas cheio de esperança.

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