Redação dos Luzias
Frustração. A palavra resume bem o sentimento dos que torciam para que a Câmara Municipal de Santa Luzia rejeitasse os vetos do prefeito interino Sandro Coelho ao ao Projeto de Regularização Fundiária de 105 comunidades instaladas irregularmente na cidade. Como a votação foi secreta, oito vereadores votaram a favor dos vetos, outros oito votaram pela derrubada, com uma abstenção. Terminando empada a votação, o prefeito levou a melhor.
“O que a gente percebe é que o Executivo atua de uma forma que impõe seu poder ao Legislativo, que se tornou um refém”, queixou-se o biólogo Diego Soares Lara, integrante da equipe técnica do Movimento Sou Luziense, formado por profissionais especializados, que vêm acompanhando de perto todos os projetos que chegam à Câmara. “A verdade é que o Legislativo inexiste em Santa Luzia”, Lamentou Diego.
Câmara sai perdendo
Com a decisão de manter os vetos, a própria Câmara Municipal se anula, na medida em que dá ao Executivo todos os poderes para lidar com a regularização das áreas em questão – normalmente, áreas invadidas. Haverá uma centralização das ações. Caberá ao prefeito decidir quando, como e que ações serão levadas adiante nas comunidades para integrá-las a Santa Luzia.
A advogada Rosa Werneck, uma das mais ativas integrantes do Sou Luziense, não escondeu seu inconformismo com o resultado da votação: “Uma tristeza para nossa cidade. E tínhamos tantos vereadores na reunião que fizemos antes da sessão de votação. Alguns são traidores do povo. Mas temos oito que são comprometidos e de impecável coerência com o voto. Precisamos continuar” – escreveu ela, em sua página no Facebook.
Assim que a votação terminou, o Luzias ouviu o prefeito sobre a manutenção dos seus vetos ao projeto. “É um veto só na operacionalização da lei” – justificou ele, acrescentando: “É porque eu posso fazer por decreto algumas dessas regularizações, sem precisar passar lá (na Câmara).” Segundo ele, a partir da aprovação desta terça-feira, as 105 comunidades “vão ter o direito de ter os serviços públicos garantidos. Então, a prefeitura poderá entrar lá com serviços de infraestrutura, Cemig poderá entrar lá, Copasa poderá entrar lá.” Sandro Coelho adiantou que “o segundo plano nosso, agora, é ter uma comissão para receber esses moradores. Porque eles terão que se regularizar. Lidar com a questão de escrituras da terra e todo o trâmite legal.”
Resultado surpreendeu
O vereador César Lara Diniz se mostrou surpreso com o resultado da votação. Segundo ele, houve uma reunião na última sexta-feira, da qual participaram nove vereadores e integrantes do Sou Luziense. Nesse encontro, César, que é advogado, mostrou, “com fundamentos jurídicos” aos presentes, que havia irregularidades nos vetos. Discutiram longamente e os nove vereadores se mostraram unidos, comprometidos com a derrubada. Havia também três outros vereadores que manifestaram sua disposição de votar contra os vetos.
“Eu tinha muita esperança. Caminhamos para uma votação tranquila, dada a margem que tínhamos. Aí, veio a surpresa com o resultado” – observou. “Se tivéssemos mais um voto, teríamos conseguido o nosso objetivo. Prevaleceu a posição do prefeito.”
Ao contrario do Sou Luziense, que defende uma campanha para que toda votação na Câmara seja aberta, César acredita que “essa é uma faca de dois gumes.” Se a votação tivesse sido aberta, disse ele, “seria ainda pior, pois teríamos mais vereadores com receio de votar contra o prefeito. Possivelmente, só três vereadores votariam contra o veto.”
Quem discorda de César, como Rosa, Diego e outros integrantes do Sou Luziense, argumenta que, se a votação fosse aberta, os vereadores se mostrariam mais e a cidade teria condições de avaliar melhor quem é quem, quando se trata dos interesses de Santa Luzia. Por que se esconder atrás do voto secreto?
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