Aproveitando que a secretária Municipal de Cultura, Joana Maria Teixeira Coelho Moreira, levaria os integrantes do Conselho de Cultura da cidade para uma “visita técnica” à antiga fazenda de Vicente Araújo, às margens do Rio das Velhas, dezenas de moradores, convocados pelo movimento Salve Santa Luzia, com faixas e muita disposição, participaram nesta quinta-feira(19) pela manhã, de uma manifestação no local.
Está nas mãos desse Conselho dar o sinal verde para a transformação da velha fazenda, colada ao centro histórico, num imenso empreendimento imobiliário. Os moradores, que lutam para criar o Parque Vicente Araújo na área, se uniram para impedir que a Emccamp Residencial, empresa de Belo Horizonte ( a mesma que construiu aquele enorme conjunto habitacional na saída para BH, via Bicas) leve adiante o parcelamento do terreno em 538 lotes.
Embora o objetivo da secretária fosse reunir os membros do Conselho de Cultura para conhecer a área sobre a qual vão deliberar, poucos conselheiros apareceram: apenas Rosa Werneck, Ana Andrade, Elizabeth de Almeida Teixeira e Valquíria. Muitos dos que não compareceram, com certeza, nunca puseram os pés lá. Perderam, assim, a oportunidade de ver de perto porque os moradores querem, de toda forma, preservar a fazenda, que foi uma das mais ativas da cidade, nos anos de 1950/1960.
Além de ser a única área verde na área central da cidade, o terreno tem nascentes, como se viu durante a visita, e uma vegetação importante que precisa ser preservada. Só quando se adentra seus portões e se caminha em direção ao que foi um dia a sede da fazenda, hoje totalmente destruída, é que se tem a perfeita noção do quão perto essa área está da Rua Direita, do pouco que ainda está preservado da Santa Luzia colonial. É inacreditável pensar que a Prefeitura e a Câmara Municipal (apenas dois, dos 17 vereadores, foram lá – Paulo Cabeção(PL) e Lelei da Auto Escola(PDT)- sejam favoráveis ao empreendimento, sem nunca ter discutido com a população.
A secretária chegou acompanhada de funcionários da secretaria da Cultura e dos dois representantes da Emccamp. Caminhou com eles na frente dos manifestantes até o alto, perto da antiga sede. Parou ali, enquanto as pessoas se espalhavam, curiosas, pelo terreno. Depois de um tempo, aos poucos, os manifestantes, que já haviam feito um abraço simbólico da fazenda, foram se aproximando e rodearam a secretária. Ela fez questão de ressaltar que a antiga fazenda é uma propriedade privada e que não tem qualquer valor histórico.
Também explicou que, quando assumiu a pasta da Cultura, o projeto do empreendimento já estava aprovado, inclusive pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente. E deixou claro que, se a população da cidade rejeita o loteamento e quer um parque no local, é a própria população que precisa buscar os meios para conseguir o que deseja. Depois das explicações, ela ouviu as queixas de muitos dos presentes, sobretudo com relação à falta de transparência em todo o processo do licenciamento do projeto da Emccamp.
Teve que ouvir também uma aula de história sobre a antiga fazenda, dada pelo ex-vereador Álvaro Diniz. ” Vicente Araújo era um homem muito generoso que ajudava muito Santa Luzia”, contou ele, explicando que o amparo do dono da fazenda, de onde saíam, diariamente, mil litros deum leite especial, foi fundamental, por exemplo, para a preservação do Mosteiro de Macaúbas. O ex-vereador foi enfático em sua fala, insistindo no caráter histórico do local.
Outra que marcou ponto importante foi a advogada Rosa Werneck ao lembrar da necessidade de maior comprometimento dos outros integrantes do Conselho de Cultura, que sequer se dignaram a participar da visita técnica. No que a secretária concordou, convocando os presentes para comparecerem ao Teatro Antônio Roberto de Almeida, na Rua Direita, na próxima quarta-feira, dia 25, a partir das 8h, onde haverá a apresentação do estudo de área pela Emccamp.
Quem esteve na velha fazenda nesta quinta-feira ficou horrorizado com a mudança no cenário exuberante de outrora. Animais e plantas mortos esturricados pelas mãos assassinas que puseram fogo, várias vezes, recentemente no local, já parte de uma campanha para abrir caminho para o empreendimento e desestimular os que lutam pela criação do parque. Lá em cima, a destruição da imponente sede, de onde se tem uma vista esplendorosa, é completa. A piscina está cheia de mato. E dos imóveis ao redor, ficaram apenas pedaços de paredes. Não resta nada do que já foi uma das fazendas mais importantes de Minas Gerais.
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