Luzias
Santa Luzia recebeu no início da manhã desta terça-feira, 9 de março, uma das notícias mais tristes: morreu Cleusa Batista, 74, depois de lutar bravamente durante anos contra um câncer. Figura conhecida e muito querida na cidade, ela foi levada ontem para fazer um exame. Passou mal e teve de ser internada no Hospital Madalena Calixto, na Avenida Raul Teixeira da Costa, onde faleceu essa manhã. O corpo será velado na Ponte, no velório da funerária, a partir das 14h30m. O enterro será duas horas depois.
Leia um dos muitos artigos publicados no Estado de Minas, escritos por Gustavo Werneck, em 2017, sobre Cleusa Batista, que o jornalista admirava tanto:
No caderno muito bem encapado – com folhas soltas datilografadas, outras manuscritas em letra graúda e retratos de várias épocas – está parte da vida afetiva de Cleusa da Conceição Batista, de 71 anos, moradora de Santa Luzia.
Com orgulho e alegria, ela mostra as páginas que recompõem mais de seis décadas de sua história como “cigana do Egito”, personagem do grupo de pastorinhas que visitam os presépios durante o ciclo natalino, período que se encerra hoje, Dia de Reis.
“É uma manifestação popular muito importante, faz parte da nossa cultura e precisa ser valorizada sempre”, afirma Cleusa ao aplaudir a decisão do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), que deverá declarar, em reunião às 14h, a Folia de Reis como patrimônio cultural imaterial de Minas.
No estado, há cerca de 1,5 mil grupos de folias de reis, pastorinhas, ternos, charolas e outros, conforme estudo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG). Na tarde de ontem, segurando o estandarte da Sagrada Família e a imagem do Menino Jesus, Cleusa mostrava também outros de seus pequenos tesouros como pastorinha: as longas tranças pintadas de preto, peças fundamentais no figurino de uma cigana.
Com um sorriso, embora convalescente de uma cirurgia no pulmão, ela contou que, ainda bem mocinha, resolveu fazer o próprio adereço após aceitar o convite da então organizadora do grupo, Maria de Lourdes Mendes. “Comecei a cantar com 7 anos, e um pouco mais tarde, já adolescente, resolvi inovar. Cortei uma folha de pita, planta que havia perto da minha casa, no Bairro São Geraldo, em Santa Luzia, fui a uma bica d’água e lavei até que as fibras ficassem branquinhas. Em seguida, pus tinta de cabelo numa panela com água, fervi, sequei e trancei. Não queria nada de tecido, a não ser a roupa”, revela o segredo.
Os “cabelos” são guardados com muito cuidado e, perto do Natal, Cleusa lava as tranças com xampu e usa como manda o figurino, sempre brilhantes e finalizadas com laços de fita vermelhos. Casada desde 1972 com José Braz, mãe de duas filhas, avó 10 vezes e bisavó de quatro crianças, Cleusa, em 64 anos como pastorinha, tem boas lembranças, principalmente dos tempos em que o grupo era comandado por seu pai, o militar Cipriano Batista, já falecido.
“Hoje canto sozinha, quando os amigos me convidam, mas quero manter a tradição, o folclore. Os jovens não querem mais esta responsabilidade, o que é uma pena, pois preferem alguma diversão”, lamenta. Clique aqui para ler mais.
2 Comments
Cristiano Lara Massara
9 de março de 2021, 11:35Triste notícia agora pela manhã. Mais um pedaço da nossa história que se vai. Que o caminho de Cleuza seja de luz.
REPLYNenez
9 de março de 2021, 11:36Muito triste! A alegria e a disposição foram suas companheiras enquanto viveu!!!! Sinto muito!!!!
REPLY