Quando a gente presta atenção às informações sobre a Celite é que se dá conta do colosso que a empresa, instalada em Santa Luzia desde 1968, se transformou. E chama a nossa atenção para o tamanho do nosso desconhecimento do parque industrial da cidade. São cinco distritos industriais, com toda sorte de empresas, grandes, médias e pequenas, algumas, como a própria Celite, fundada em São Paulo, em 1941, em poder de multinacionais.
Desde 1999, a unidade produtora de louça sanitária, em Bicas, pertence à Roca Brasil, do grupo espanhol Roca, maior produtor mundial de louças sanitárias. Tornou-se uma empresa tão importante, a Celite, que exporta sua produção para diversos países, como a Grã-Bretanha e a Austrália, do outro lado do mundo.
Seria tão bom para Santa Luzia e, acreditamos, para as empresas instaladas aqui, se houvesse uma maior inteiração entre as duas partes – a cidade e as indústrias. hoje, os dois lados estão totalmente dissociados. As empresas não têm qualquer participação na vida social da cidade. Já foi diferente.
E por falar nisso, a Celite deve anunciar na semana que vem a abertura à visitação pública de seu museu – com a história das peças sanitárias no Brasil. A empresa vai informar como as pessoas podem agendar a visita.
Leia reportagem sobre a Celite de Marta Vieira, para o Estado de Minas:
Entre conhecidas vedetes do comércio de Minas Gerais com o exterior, são inusitados vasos sanitários que chamam a atenção no novo e aparentemente mais promissor cenário das exportações. Moldadas em massa de argila, quartzo e feldspato, matérias-primas abundantes no estado, as peças saem em contêineres de Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte, com design exclusivo para atender de ingleses a australianos. Há também os modelos feitos para clientes na Argentina, Paraguai, Chile, Peru e Bolívia.
O endereço da produção, no distrito industrial da cidade, é o da maior fábrica do mundo de louças para banheiro, que a cada hora produz 400 peças. Todo dia, cerca de 800 empregados trabalham em 9.500 vasos de marcas mantidas no Brasil pela multinacional espanhola Roca Group, líder do setor.
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A Celite nasceu em São Paulo
Antiga marca brasileira nascida no interior de São Paulo em 1941, a Celite ganhou escala no parque fabril de Santa Luzia em 1968. Sob o guarda-chuva da Roca desde 1999, com espaço físico e planos de expandir as vendas, a fábrica de Santa Luzia incorporou, neste mês, um inédito museu do banheiro.
A rara coleção une a diversidade de vasos fabricados quase 80 anos atrás, aos exemplares típicos de cada década de transformações no comportamento do consumidor e na economia brasileira. Não faltam, ainda, as versões de última geração, os chamados vasos inteligentes. Isso mesmo! São aqueles modelos repletos de comandos para dar ao usuário o conforto da regulagem ao sentar-se e a possibilidade dos banhos de assento com água e ar quentes, eliminando o uso do papel higiênico. A semelhança é imediata com as louças sanitárias dos tecnológicos japoneses, mas ainda bem distantes do abalado poder de compra dos brasileiros.
Há muitas histórias que o consumidor desconhece em torno do ‘trono’, usado desde os tempos das latrinas em pedra no Egito de 2000 a.C, e que evoluiu acompanhando a ciência e o desenvolvimento cultural e econômico dos povos. De peça essencial em qualquer tempo da história, o vaso sanitário alcançou status de símbolo de riqueza e, em Minas, mostra seu potencial para estimular as exportações nada tradicionais do estado.
Belas dos anos 40 dão glamour ao trono
O curioso museu do banheiro conta a história brasileira do cômodo, a partir do vaso que teria sido resultado das primeiras gerações de louças sanitárias nacionais na década de 1940. O ambiente no Brasil era ditado, à época, pela campanha nacionalista do governo de Getulio Vargas, que favoreceu a indústria. No exterior, o banheiro começava a deixar o confinamento entre quatro paredes, num mundo que se debatia com as mudanças trazidas com o fim da Segunda Guerra Mundial.
As atrizes de Hollywood são chamadas para dar o charme e emprestar seu glamour, que os banheiros nunca haviam tido. Rita Hayworth, Claudette Colbert, Jennifer Jones, Judy Garland e Ingrid Bergman faziam sucesso nas telas e na propaganda que valorizava o conforto íntimo. “A produção nacional era ainda incipiente e a demanda restrita”, destaca o gerente industrial da fábrica de Santa Luzia, Athos Domingues.
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Com a valorização da intimidade e o avanço tecnológico observado nos anos 50 é que a produção dos vasos sanitários despontaria. Aí, sim, surgiram os grandes formatos, inspirados no estilo europeu das salas de banho, e esbanjando em cores. Envolvida na pesquisa histórica durante os últimos dois anos, que serviu de base ao projeto do Museu da Celite, a gerente de marketing da Roca Brasil, Aline Pereira, destaca os avanços que as peças mostraram. “Houve mudança tanto produtiva quanto estética e a propaganda começa a mostrar o banheiro como espaço importante da casa”.
Cai Jânio e a produção avança
Nos conturbados anos 1960, sob o impacto de um Brasil que vê a renúncia de Jânio Quadros em 1961, a ascensão de João Goular à Presidência e sua derrubada pelo golpe militar de 64, a produção abre seu caminho com a valorização do espaço dos banheiros, já ditada pela moda. No exterior, John Kennedy, 35º presidente dos Estados Unidos, é assassinado, e a rebeldia do rock’n’roll contamina as ruas.
O consumidor brasileiro pede, então, vasos mais compactados, desenhados pela arte do grafismo nas peças e surgem os conjuntos suspensos. “O banheiro que era algo íntimo, agora encantava. Passaram-se décadas até que as pessoas deixassem de escondê-lo”, lembra Aline Pereira.
Auge do chuveiro, Copa e o encanto das suÍtes
Em 1970, enquanto a ditadura do governo de Emílio Garrastazu Médici se aproveitava da paixão pelo futebol, no embalo da primeira transmissão ao vivo de uma Copa do Mundo, nos costumes as suites dos quartos de casal se destacavam e o chuveiro chegava ao auge, impulsionando as louças sanitárias mais trabalhadas. Vieram os anos do milagre econômico, construído pelo dinheiro de investimentos estrangeiros.
Novos tempos e mais investimentos
Com o fim do ufanismo e a dura realidade enfrentada pelo Brasil e a América Latina na chamada década perdida, a dos anos 1980, os banheiros tiveram de se renovar, criar a novidade na modelagem e os tons degradê assumem a dianteira, talvez em busca de uma transição. O espírito persistiu na década de 90 associado a grandes investimentos feitos em pesquisa e na melhoria de qualidade e do desenho das peças.
Portas abertas
Junto aos itens de banheiro reunidos no museu, objetos cedidos por funcionários que complementaram a pesquisa histórica do acervo, brindes antigos típicos e imagens montadas em caleidoscópios contam a história e evolução das peças. A empresa pretende abrir as portas em agosto, recebendo inicialmente clientes, arquitetos e formadores de opinião. Empresa centenária, o grupo espanhol Roca busca fortalecer sua participação no mercado internacional.
No parque industrial de Santa Luzia, com 74 mil metros quadrados, a capacidade de produção de duas fábricas, sendo a segunda, de 2012, uma das mais automatizadas, soma 4,2 milhões de peças por ano. A unidade concentra a fabricação das linhas de grande volume de louças sanitárias.
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