Testemunho da noite de horror vivida pelos moradores do bairro da Ponte

Testemunho da noite de horror vivida pelos moradores do bairro da Ponte
O Rio das Velhas transbordou e a água encobriu a Rua do Comércio. Foto: Paulo Giovannini

Paulo Giovannini, Luzias

Santa Luzia e grande parte de sua população viveram nesta última noite e madrugada, demonstração da mais autêntica e inequívoca ausência de estrutura para enfrentar intempéries com um mínimo de eficiência. Desleixo, desatenção, despreparo e falta de educação foram algumas das marcas deixadas por aqueles agentes que, teoricamente, seriam os responsáveis por administrar situações trágicas como assistimos há pouco.

Outro ângulo da rua que passou a noite e continua alagada, pois continua chovendo. Foto: Beto Mateus

Não há o que explicar: fui testemunha do desinteresse das autoridades em anunciar, pelas ruas de risco, utilizando um simples carro de som, que era hora de sair, que, além da velha, a ponte nova seria interditada também.

Rua do Comércio logo depois de invadida pelas águas do Rio das Velhas. O vídeo é o jornal Virou Notícia:

23h40 Rio das Velhas transborda e alaga parte da rua do Comércio.#jornalvirounoticia #santaluzia #chuva

Geplaatst door Jornal Virou Notícia op Vrijdag 24 januari 2020

Atitude rudimentar, mas, suficiente. Testemunhei, também, a ausência de agentes públicos a prestar, pelo menos, a solidariedade tão bem vinda nestas horas. Insensíveis, não vi qualquer um deles, de qualquer escalão ou ofício.

Presenciei, também, o resgate desastroso na Praça do Itaú: ali, sim, ponto central do bairro da Ponte, dezenas de policiais militares se postavam diante do espetáculo de horror. Ao menos pelo que pude ver, uma pessoa sobre a cobertura de um carro, acenava pedindo socorro.

Rua José Tófani:

Nada! Os policiais, de braços cruzados, continuavam na sua silenciosa vigília. Até que surgiu, pasmem, um barco a remo, pilotado por um agente mais intrépido, que, a muito custo se aproximou do náufrago. Fiquei por ali, ainda por um bom tempo e a operação resgate ainda não havia sido concluída.

Chegou então uma viatura (pequena) do Corpo de Bombeiros. Não vi suas portas se abrirem. Cansado de não ver nada de sério, resolvi retornar ao abrigo que encontrei na casa de uma sobrinha. Eu e uma irmã mais idosa, que mora na Rua Felipe Gabrich, após tentarmos por todos os meios chegar à minha casa em local mais seguro e não conseguir, só tínhamos uma opção: aceitar.

Avenida Raul Teixeira da Costa:

Não creio que foram somente as chuvas a provocar tamanho dano. Houve, sim, desleixo por parte dos responsáveis pelo controle do escoamento gradual e planejado das comportas das represas afluentes da região atingida. A água subia a olhos vistos, não nos dando chance de agir a tempo. Onde o prefeito, onde os vereadores, onde os secretários municipais, onde a defesa civil, onde a guarda municipal e onde a polícia militar? Repito: sou testemunha da falta de cuidados mínimos que muito confortaria a população em momento de tanto sofrimento. Sabemos que nos sentimos impotentes diante de situações desta natureza, mas convenhamos, faltou um mínimo necessário por parte das autoridades.

E continua faltando…

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