Protesto contra mineração na Serra da Piedade vai ser na manhã deste domingo

Protesto contra mineração na Serra da Piedade vai ser na manhã deste domingo
A Serra da Piedade, que os luzienses têm como sua, vista da Frimisa - Foto: Luiz Fernando Ferreira

Luzias

“Berço ancestral de augustas gerações/ E túmulo de glórias do passado/ As ruínas de seu sólio derrocado/ Inda estremecem cheias de emoção/ Terra de lendas e evocações/ Recordo-a! Sob lindo céu lavado/ A Serra da Piedade, a Igreja e, ao lado,/ As casas de sagradas tradições…”. Este trecho do poema Santa Luzia, de Francisco Tibúrcio de Oliveira, ilustra bem a relação de profundo amor do luziense com a Serra da Piedade.

Embora esteja localizada em Caeté, falamos e agimos como se esse tesouro histórico, ambiental, cultural e religioso fosse nosso. E, de fato, pertence a todos nós. É tombada pelo patrimônio histórico estadual e nacional (Iphan e Iepha). Por isso vem causando tanta indignação a notícia de que a mineradora AVG solicitou licença para voltar a retirar minério na Serra. Uma mineradora chamada Brumafer cavou verdadeira cratera numa das encostas e deixou a destruição lá. Agora, vem a AVG propondo recompor o local, mas quer explorar uma área maior para retirar minério. O pedido da empresa será discutido numa reunião da Secretaria Estadual de Meio Ambiente marcada para sexta-feira que vem, 22 de fevereiro.

Ato de protesto contra a volta da mineração na Serra, considerada patrimônio dos mineiros

Dom Walmor conclama mineiros a proteger a Serra
Logo após a tragédia provocada pela Vale em Brumadinho, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, escreveu um artigo (Dom Walmor pede que mineiros que se unam contra a destruição da Serra da Piedade) fazendo um apelo à união dos mineiros para salvar Minas da sanha das mineradoras e, principalmente, para proteger a Serra da Piedade. A reunião que deveria aprovar a volta da mineração na Serra estava marcada para 25 de janeiro, mesmo dia em que houve o rompimento da barragem da Vale.

Com a ampla repercussão negativa da tragédia de Brumadinho – segunda patrocinada pela Vale em Minas, em menos de três anos. A primeira foi no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana – ambientalistas acreditam que a reunião do dia 22 pode ser adiada novamente. Precisamos todos seguir a orientação de Dom Walmor, nos unirmos e, usando todos os meios possíveis, não deixar que a AVG consiga seu objetivo. A primeira mobilização popular para impedir “o crime de mineração na Serra da Piedade”, está marcada para esse domingo, dia 17, às 08h30, no trevo do santuário. Vamos todos lá mostrar a nossa contrariedade.

A arrogância do burocrata presidente da Vale

Na audiência na Câmara dos Deputados,o presidente da Vale,Fábio Schvartsman, demonstrou insensibilidade

É impressionante o poder das mineradoras em Minas. Elas fazem o que querem. E como têm muito dinheiro, seguem produzindo pobreza e destruição no estado. Dá para ver a arrogância da mineração, quando a gente presta atenção ao que disse o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, durante audiência na Câmara dos Deputados, nesta quinta, 14 de fevereiro, 20 dias depois da calamidade que abalou o país. A Vale, disse ele, “é uma joia brasileira que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia.” Que homem insensível é esse para lançar palavras tão desrespeitosas nas faces das mais de 300 famílias que perderam seus parentes numa tragédia causada pela empresa que ele dirige? Que burocrata de gelo é esse, para dizer sem alterar o semblante que a Vale não sabe por que a barragem ruiu. E não tem responsabilidade por esse crime inominável?

Revoltado com a fala do presidente da Vale, o deputado André Janones(Avante-MG) não se conteve e endereçou a Fábio Schvartsman as palavras mais duras que, com certeza, o burocrata ouviu até agora sobre as toneladas de lama que sua empresa lançou sobre Brumadinho. Veja o vídeo:

A MÍDIA AMESTRADA NÃO MOSTRAMas a TV Câmara registrou a surra moral aplicada ao dirigente da Vale e ao Secretário de Meio Ambiente (?) de Minas Gerais, na Comissão Parlamentar que analisa a tragédia de Brumadinho. É de lavar a alma.

Geplaatst door Antonio Fernando Pinheiro Pedro op Donderdag 14 februari 2019

Sociedade civil cria gabinete paralelo e critica o governador
As críticas de muitos mineiros não são dirigidas apenas ao alto escalão da Vale. O novo governador de Minas, Romeu Zema, também não está sendo poupado. Representante do Partido Novo, Zema tem se comportado mais com um velho político. E é acusado de insensibilidade. Numa reunião na terça-feira, na Cidade Administrativa com a bancada mineira na Câmara dos Deputados, o governador, que é empresário, se referiu à catástrofe como ‘incidente’. Ele também disse que a Vale está assumindo o compromisso após a tragédia e parece ter reconhecido o erro apesar do ‘incidente.’

Inconformado, o ambientalista Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais, mandou esse recado para Zema: “Quero dizer que o governador está absolutamente equivocado e eu diria que é uma falta de sensibilidade com aqueles que morreram. Absolutamente, e a sociedade tem claro isso, é um crime. Quero dizer ao governador que ele não está sendo sensível com a comoção que isso tem na população. O governador tem o papel de defender a sociedade e não a empresa.”

O absurdo na terra de Carlos Drummond de Andrade
Descrente com o governo estadual, um grupo da sociedade civil, do qual Marcus Vinicius faz parte, formado por movimentos sociais, pesquisadores e ativistas, criou nesta quinta-feira, um gabinete de crise para se contrapor ao gabinete oficial montado pelo estado para coordenar as ações relacionadas à tragédia.

Atualmente com 130,8 milhões de m³ de rejeitos, barragem de Itabiruçu, perto de Itabira, está sendo ampliada

O fato é que só agora os mineiros estão começando a acordar para a gravíssima questão da mineração no estado. Há ainda muito que a população desconhece. Um bom exemplo disso é o que revela a longa reportagem publicada no site da bbcbrasil, com o título: “Cidade onde Vale nasceu vive cercada por 33 vezes o volume de rejeitos de barragem que se rompeu em Brumadinho.” Itabira, terra de Carlos Drummond de Andrade e da Vale, vive sobressaltada, porque, segundo o vereador André Viana, “a Vale vem e diz que está tudo bem, mas ninguém acredita mais na palavra dela.” Depois de ler a reportagem da BBC, você vai se perguntar: como é que o presidente da Vale consegue dormir? Mas vai se perguntar também: como é que nós, mineiros, deixamos a situação chegar a esse ponto?

Olhai as minas de Minas, pede Dom Walmor
No artigo mais recente que escreveu sobre a mineração no estado de Minas Gerais, “Olhai as minas de Minas”, Dom Walmor afirma que a lição aprendida em Mariana e em Brumadinho é que Minas necessita urgentemente mudar, para impedir que venham novas tragédias. É preciso encontrar outras vocações para o estado, como o turismo, sugere o arcebispo. “Minas Gerais não pode ser mais a mesma. Encontrar novo caminho, fiel às tradições e às riquezas do território mineiro é a missão que desafia o Estado e o seu povo, para que se viva um novo tempo.” Nas palavras dele: um novo tempo “livre de empreendimentos que simplesmente esburacam as montanhas e produzem barragens de rejeitos – bombas-relógio que ao explodirem destroem vidas humanas e o meio ambiente.”

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