Vacinado contra a Covid-19 aos 104 anos, Armando diz: “Nada me pega. Sou forte”

Vacinado contra a Covid-19 aos 104 anos, Armando diz: “Nada me pega. Sou forte”
Armando vai completar 105 anos e é mesmo uma verdadeira fortaleza. Foto: Jair Amaral/EM

Gustavo Werneck, Estado de Minas

“Sou brasileiro, maior de idade e vacinado”. A frase, cheia de altitude, já foi ouvida milhares de vezes, geração após geração, da boca de jovens que acabam de completar 18 anos e se acham donos do seu nariz. Mas agora chegou a hora de uma turma muito especial repeti-la com mais orgulho e do alto da longevidade: “Sou brasileiro (a), maior de 100 anos e vacinado (a) contra a COVID-19”. E fazer das palavras, em todo canto, um brado de esperança.

Em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a alegria toma conta de dona Augusta Pereira Chagas, centenária desde 2 de novembro e com muitos planos para o futuro, desde que recebeu, no sábado, a primeira dose do imunizante. “Estou satisfeita, porque quero ter mais força na vida, sentir segurança e poder abraçar meus netos e bisnetinhos que ainda precisam muito de mim. Agora, espero ansiosa a segunda dose”, diz dona Augusta cheia de animação entre seus bordados, comidas e aconchego familiar.

A voz de dona Augusta, a exemplo da de Maria Geralda, de 105 anos, e de seu Armando, a poucos meses de chegar perto dessa idade, está firme e forte no seu direito à saúde é à imunização. E ecoa com energia quase um ano após a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, que acumula 10.139.148 de casos, com 245.977 mortos. Na frente deste número dramático, estão os mais vulneráveis, o chamado grupo de risco: os idosos.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), a estimativa populacional de idosos com 90 anos ou mais, em Minas, é de 107,9 mil pessoas. A assessoria da SES-MG informa, em nota, que o número total de vacinados nessa faixa etária será divulgado ainda esta semana. Por enquanto, no país, apenas 2,65 % dos brasileiros (5.614.633) foram vacinados contra a doença que assombra o planeta e foi declarada pandemia, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 11 de março.

PRIMEIRO CASO Foi em 26 de fevereiro de 2021, uma quarta- feira de cinzas, que houve a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no país. Era um homem de 61 anos, morador da capital paulista, que fizera uma viagem à Itália entre 9 e 21 daquele mês.

Na época, procurou um serviço de saúde com sintomas respiratórios – o registro se deu após ele ser submetido a dois exames que deram positivo para a infecção. Na sequência, 30 pessoas da família do paciente foram colocadas em observação. A partir de então, começou a escalada tenebrosa da COVID-19, com muito “bate-cabeça” entre autoridades federais e estaduais, atitudes negacionistas de desprezo à ciência, queda de dois ministros da Saúde, atraso na vacinação e o doloroso calvário para as vítimas e familiares.

RABADA COM BATATA – Se quer o melhor para sua saúde, a centenária Augusta Pereira Chagas sabe do que gosta. Para comemorar a vacina, que ocorreu no sistema drive-thru, montado pela Prefeitura de Sabará, via Secretaria Municipal de Saúde, ela saboreou uma rabada com batatas, preparada por ela e pelo neto Carlos Eduardo Chagas de Souza, de 32. “Foi uma disputa, entre os netos, para saber quem a levaria para vacinar. Todo mundo mundo queria, e havia uma série de recomendações, como dar -notícia o tempo todo no grupo de Whatsapp da família, verificar qualquer reação, enfim, tomar todos os cuidados”, revela a filha caçula e mãe de Carlos Eduardo, Mirtes da Piedade Chagas e Souza.

Vizinho da vovó, Carlos Eduardo se comprometeu a preparar com dona Augusta, para o almoço de sábado, a iguaria, e acabou sendo o condutor da matriarca.
“Foi uma tranquilidade para ela e para toda a família. Ficamos aliviados”, conta Mirtes, pedagoga, dona da casa onde a mãe passa a quarentena que já vai para um ano.

Lúcida e bem-humorada, só lamentando um pouco de surdez, dona Augusta está à frente de uma família que soma 58 integrantes: nove filhos, 25 netos e 24 bisnetos. Natural de Sete Lagoas, na Região Central de Minas e moradora de Sabará há mais de cinco décadas, ela se despede do repórter de forma bem afetuosa: “Um grande abraço…abraço de velho é muito bom, pois é quentinho”.

Luziense querido de todos, Armando vive em Taquaraçu de Minas. Foto: Jair Amaral

DOSE RESERVADA – Em Taquaraçu de Minas (RMBH), município com 4,1 mil habitantes, foi vacinado na quinta-feira o fazendeiro Armando da Conceição, que completará 105 anos em 15 de abril. “A dose dele estava reservada”, disse o secretário municipal de Saúde, Célio Marcolino da Fonseca. Em Taquaraçu de Minas, onde os profissionais de saúde foram imunizados, receberam a primeira dose 21 idosos com mais de 90 anos.

O neto de Armando, Leopoldo Alves, advogado, informou que o avô vinha se tratando de uma pequena infecção e só poderia ser vacinado dois dias após terminar de tomar o antibiótico prescrito pelo médico. O senhor centenário continua em quarentena na sua Fazenda Aragão, na comunidade rural de Campo de Santo Antônio. “Nada me pega, não. Sou forte. Tomei vacina a vida inteira, o braço nem ardia. Tenho anos de vida pra dois”, brincou o fazendeiro logo após a injeção aplicada pelo técnico de enfermagem Jailson da Cruz, que foi até o local.

Viúvo há uma década, Armando foi casado por 74 anos com Maria da Piedade da Conceição, tendo 13 filhos, 36 netos, 31 bisnetos e um tararaneto. Na saída da equipe do EM, teve lugar para o bolo de fubá com café e o sorriso confiante de quem tem longa estrada e fé na vida.

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NA CAPITAL – Belo Horizonte ainda não tem contabilizado o número de pessoas acima de 89 anos vacinadas, mas uma delas sabe muito bem que integrar essa turma só traz a paz. “Vacinei, graças a Deus! Estou livre!, resume Maria Geralda Fernandes, de 105 anos, com satisfação. Acolhida na Casa Zita, ligada à ação social Providens, da Arquidiocese de BH, ela mostra o cartão de vacinação e aguarda a segunda dose do imunizante. Na instituição, moram 20 idosos entre 74 e 105 anos, estando a maioria na faixa dos 80.

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