Santa Luzia presta justa homenagem ao maestro João Carlos Rosolini

Santa Luzia presta justa homenagem ao maestro João Carlos Rosolini
Coro Angélico prestigiando o maestro durante a cerimônia de entrega da comenda Antônio de Castro Silva.. Foto: Divulgação

Glaucon Durães*
Luzias

Na segunda-feira, 18 de março, data em que foi comemorado o aniversário de 332 anos de Santa Luzia, o maestro João Carlos Rosoloni foi agraciado com a medalha e o diploma “Antônio de Castro Silva”, a principal comenda concedida pelo município de Santa Luzia, em reconhecimento a sua importante contribuição para a cultura luziense, em especial, na área da música.

Em seu discurso de agradecimento, o maestro João Carlos afirmou que “o verdadeiro mestre não é aquele que ensina, mas aquele que inspira a aprender”. Conheçamos então, a história de um mestre que a despeito da falta de formação acadêmica na área da música erudita, inspirou gerações de crianças e jovens de Santa Luzia a aprender e se tornar maestros, cantores e músicos eruditos e populares, profissionais e amadores, além professores de uma nova geração de artistas musicais.

O maestro e professor de música João Carlos Rosolini nasceu em Santo André, SP, à 06 de dezembro de 1956, em uma família de imigrantes italianos empobrecidos, da região de Veneto, que veio trabalhar nas lavouras de café do interior de São Paulo no início do século XX. A sua formação musical foi iniciada na infância, no âmbito familiar.

O seu avô paterno e tios, eram multi-instrumentistas e cantores amadores de músicas populares italianas e brasileiras. Já o seu pai, João Rosolini, foi violinista profissional da Orquestra Sinfônica de Santo André/SP.

Aos 6 anos de idade, João Carlos começou a estudar violino com o seu pai, e aos 13 anos, ingressou no Coral São Pio X, em São Paulo, dirigido pelo regente do Coral Paulistano Miguel Arquerons, com quem estudou teoria musical, canto coral, regência, flauta e piano.

Nos 10 anos em que foi coralista e depois, regente auxiliar, do São Pio X, executou músicas sacras, renascentistas e folclóricas. Nessa mesma época, tocou trompete na fanfarra dirigida por Cláudio Stephan, ex-diretor artístico da Orquestra Sinfônica de São Paulo, e fez curso de canto gregoriano no mosteiro paulistano de São Bento, com Marcos Pavan, maestro do coral da Capela Sistina, Vaticano.

Na juventude, João Carlos pausou as suas atividades musicais, iniciou a graduação em Direito (inconclusa) pela USP e exerceu várias profissões, dentre elas, guia turístico, nas cidades históricas de Minas Gerais.

Em 1995 visitou Santa Luzia, ocasião em que se encantou com o recém criado coral dos meninos cantores Mater Ecclesiae. Em 1997, deixou de ser guia turístico para se dedicar à música e mudou-se de Caeté para Santa Luzia. Tornou-se regente auxiliar, professor de canto coral e de flauta doce do Mater Ecclesiae, funções que exerceu até 2018.

Nesse período, regeu o Mater Ecclesiae em diversos concertos, missas, casamentos, congressos nacionais de meninos cantores e cerimônias públicas e privadas, em Santa Luzia e outras cidades do Brasil.

Com os Meninos Cantores de Santa Luzia realizou também, apresentações em conjunto com o Clube da Esquina e com o grupo musical sueco ABBA, além da gravação de dois CDs: “Laudate Pueri Dominum” (1999) e “Missa Solene” (2002).

Em 2006, João Carlos foi eleito vice-presidente da Federação dos Meninos Cantores do Brasil. Pela Federação, João Carlos organizou turnês, em várias cidades dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, dos corais europeus Le Petit Chanteurs de Lyon (2008), Le Petit Chanteurs de Bordeaux (2013) e Neuen Kammerchor Heidenheim (2017).

Também organizou o Congresso Nacional de Meninos Cantores do Brasil (2011), que contou com a participação de mais de 800 crianças de todo o país.

Entre 1998 e 2018, João Carlos foi regente do Coro Angélico e Orquestra Sacra de Santa Luzia, dois dos conjuntos musicais mais antigos da cidade, ainda em atividade, declarados patrimônio cultural imaterial pelo município em 2022.

Nesse período, recuperou parte significativa do acervo musical do Coro, que dispõe de peças sacras e populares de compositores luzienses e mineiros dos séculos XVIII, XIX e XX, ainda não catalogados em pesquisas e publicações científicas.

O momento em que recebeu das mãos do Prefeito, Pastor Sérgio, o diploma. Foto: Divulgação

João Carlos também fundou e regeu o Coro Ângelis, das meninas cantoras de Santa Luzia, que posteriormente se tornou um coral misto e infelizmente extinguiu-se em 2013, por falta de incentivo cultural em Santa Luzia.

As atividades musicais do mestre João Carlos foram suspensas durante a pandemia da Covid-19, doença que quase o vitimou. Restabelecida a saúde, fundou o coral Mater Fidelis, em Santa Luzia, por solicitação de alguns jovens, outrora meninos cantores do Mater Ecclesiae. Desde então, dá continuidade a sua carreira como professor de música e maestro.

O mestre João Carlos Rosolini construiu, ao longo da vida, um significativo patrimônio de conhecimento musical adquirido junto a mestres das culturas popular e erudita, o qual, desde a juventude, transmite a crianças, adolescentes, adultos e idosos dos diversos grupos musicais que regeu em cidades dos estados de São Paulo e Minas Gerais, com destaque para Santa Luzia.

A sua atuação musical nos âmbitos local, regional e nacional apresenta contribuições também para a preservação e divulgação da música colonial mineira, a integração do Brasil à tradição internacional dos “meninos cantores” e a formação de novas gerações de músicos e cantores amadores e profissionais.

Vários ex-alunos de flauta doce e canto coral, de João Carlos, inspirados pelos ensinamentos do mestre, deram continuidade à carreira musical profissional ou amadora, dentre eles: Kassio Alves Mendes, bacharel e licenciado em Música, com especialização em flauta transversal, pela UEMG, tendo sido regente do Coro Angélico e da Orquestra Sacra de Santa Luzia. Paulo Ricardo Castro Costa, graduando em Música pela UEMG e atual regente do coral Mater Ecclesiae; Tayna Bueno, graduanda em Música pela UFOP.

E ainda Frederico Campos, flautista profissional da Orquestra de Sabará/MG; Matheus França e Guilherme Lima, cantores do Palácio das Artes de Belo Horizonte; e Wesley Duarte, Igor Tolentino, João Pedro Oliveira e João Pedro Martins, cantores amadores e coralistas do Mater Fidelis. Figuram como discípulos dos discípulos do mestre João Carlos, as professoras e musicistas Laís Soares e Géssica Drean Luz Barbosa, licenciadas em Música pelo Centro Universitário Izabela Hendrix e Amanda Moreira, cantora lírica formada pela UEMG.

O trabalho desenvolvido pelo mestre João Carlos, na formação musical de centenas de crianças e adolescentes de diferentes classes sociais de Santa Luzia, bem como na consolidação da tradição artística, de origem medieval, denominada “Meninos Cantores”, na cidade e região, foi reconhecido por ocasião da sua eleição à vice-presidência da Federação dos Meninos Cantores do Brasil. No cargo, João Carlos se destacou na promoção do intercâmbio cultural entre os “meninos cantores” brasileiros e os “meninos cantores” de outros países.

Há que se ressaltar também a excelência do processo de recuperação do acervo de músicas colonias luzienses e mineiras do Coro Angélico pelo maestro. O referido processo contribuiu para a apropriação do repertório pelos músicos e cantores da cidade, não mais “de ouvido”, como era comum ao longo do século XX, mas a partir da leitura das partituras, agora disponibilizadas também por meio digital.

Infelizmente, a falta de incentivo cultural na cidade naquele contexto da década de 1990 inviabilizou a continuação desse trabalho, próprio da área científica da musicologia. Não obstante, em 2021, o então regente do Coro Angélico, Kassio Alves Mendes, deu continuidade ao trabalho iniciado pelo ex-professor João Carlos, com destaque para a redução para piano, de várias peças executadas pela Orquestra Sacra de Santa Luzia e Coro Angélico há mais de 70 anos, o que trouxe novas possibilidades de interpretação dessas músicas, bem como a manutenção das práticas de sua execução em importantes momentos festivos e celebrativos da cidade.

Por fim, o mestre da música João Carlos Rosolini possui uma vida dedicada a transmissão de conhecimentos, saberes e fazeres musicais, sobretudo a crianças e jovens. Sua dedicação tem contribuído para a manutenção, divulgação e democratização do acesso social às músicas sacras, polifônicas, renascentistas, coloniais e folclóricas em vários municípios, em especial Santa Luzia, a cidade que o encantou e que, desde então. é encantada pelo seu trabalho.

*Presidente da Associação Coro Angélico de Santa Luzia.

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