Nesta terça-feira, 20 de agosto, completa 177 anos da Batalha Final da Revolução de 1842, travada em Santa Luzia. Além de uma exposição com o acervo da Prefeitura de fotos e documentos sobre a Batalha, haverá um café, às 8h, no Solar da baronesa. Mais tarde, às 9h30m, em cerimônia no Muro de Pedras, será feita a entrega da láurea da Cruz da Batalha de Santa Luzia a três personalidades: Lúcia Massara, Jorge Moreira de Souza e Sabrina Alver Freesz. A oradora oficial do evento será Regina Almeida.
A propósito do aniversário do desfecho da Revolução, Gustavo Werneck escreveu para o Estado de Minas esta excelente reportagem sobre o livro Horizonte de Eventos da Batalha de Santa Luzia, lançado recentemente pelo historiador luziense Gustavo Villa.
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O destino de um soldado preso no gavetão de uma igreja barroca sempre povoou o imaginário do pesquisador Gustavo Villa, formado em história e com grande interesse pelas ciências humanas. “Algumas vezes, nos devaneios da infância, me pegava imaginando a angústia daquele ser humano tentando inutilmente abrir a gaveta, até o último suspiro desesperado naquele claustrofóbico caixão em que foi se meter”, conta o autor do livro Horizonte de eventos da Batalha de Santa Luzia – Aspectos sociais e arqueológicos. Além de apresentar novos fatos sobre a Revolução de 1842, cuja última batalha se deu em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, terra do autor, a obra chega no momento em que o episódio completa 177 anos – nesta terça-feira haverá a tradicional cerimônia cívica de 20 de Agosto na cidade.
Antes de mais nada, é bom entender do que se trata a Revolução de 1842: um movimento armado que ocorreu de forma simultânea nas duas mais importantes províncias do Império – São Paulo e Minas Gerais – e resultou das divergências entre os dois únicos partidos políticos existentes, o Conservador e o Liberal, tendo como causa maior a defesa da Constituição de 1824. A carta tinha princípios violados pelos dirigentes do Partido Conservador no poder administrativo do Império, por meio de edições de leis reacionárias. O confronto reuniu mais de 5 mil homens, sendo o exército comandado por Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880), o Duque de Caxias, e os liberais pelo mineiro Teófilo Otoni (1807-1869).
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Villa explica que a primeira motivação para escrever o livro foi a história do soldado morto no gavetão da Matriz de Santa Luzia, o que alimentou seu subconsciente “de forma onírica”. Ao se formar em história em 2000, na PUC Minas, ele aprofundou os estudos na arqueologia do período neolítico, “sem perder o interesse pela história do lugar onde cresci”. Assim, começou a trabalhar num levantamento genealógico familiar e montou um acervo com fontes primárias, verificando que alguns dos ascendentes atuaram nos setores militar e político, em meados do século 19, na então Comarca do Rio das Velhas. Um deles, o tenente-coronel José de Oliveira Campos, foi das lideranças no arraial. “Teófilo Otoni e alguns de seus companheiros ficaram presos na casa desse meu antepassado, na Rua Direita, e arrastados numa degradante procissão até Ouro Preto, capital da província“.
SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS Diante da falta de levantamento sistemático sobre a localização dos sítios arqueológicos ligados à Batalha de Santa Luzia, “fato que dificultava a compreensão especial dos movimentos do combate”, Villa, de 42 anos, decidiu ir à luta munido da experiência adquirida em mais de 10 anos com a arqueo-astronomia.´E também “bebeu” em três fontes da época e formadoras da base documental do trabalho: o livro do cônego José Antônio Marinho (1803-1853), que participou dos eventos, a Ordem do Dia, redigida por Caxias logo após os combates e a planta do antigo arraial de Santa Luzia, “incrivelmente acurada”, produzida em curtíssimo espaço de tempo pelo engenheiro alemão Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfed (1797-1873), veterano da Batalha de Waterloo. A planta feita por Halfed, que morreu em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, foi encomendada por Caxias para desenvolvimento das estratégias adotadas nos combates.
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A partir da confrontação dos documentos com softwares de geoposicionamento e pesquisa de campo, Villa desenvolveu o Atlas da Batalha, reproduzido na terceira parte do livro. Para melhor compreensão da narrativa dos fatos, ele recomenda que o leitor vá direto ao Atlas, para depois conhecer a primeira parte do livro. Além do conteúdo arqueológico, a primeira parte da obra de 112 páginas apresenta as implicações sociais do conflito na Comarca do Rio das Velhas, com informações sobre as pessoas que viviam nas imediações do arraial em 1842. Estão lá a descrição dos nomes e, em alguns casos, pequena biografia desses agentes da história – “alguns protagonistas, outros coadjuvantes”.
A obra é recheada de fotos antigas, reprodução de pinturas e registro de alguns casarões da Rua Direita, no Centro Histórico. Um dos destaques está no retrato da cidade, em 1868, durante a expedição do fotógrafo alemão Augusto Riedel (1836-1877). “Ele introduziu as duas primeiras câmeras fotográficas no Brasil. A primeira, deu de presente para dom Pedro II”, conta Villa, acrescentando que, na época, a Rua Silva Jardim, de onde foi feita a foto, na esquina da casa do Barão de Catas Altas, se chamava Rua dos Muquiranas. Já lançado em Santa Luzia, Caeté e Sabará, o livro será apresentado também em Lagoa Santa, Curvelo e Belo Horizonte, em datas a serem marcadas, já estando disponível para compra na internet, pelo site Mercado Livre. Em BH, está nas livrarias.
Livro: Horizonte de Eventos da Batalha de Santa Luzia – Aspectos sociais e arqueológicos
Autor: Gustavo Villa
Onde comprar: no site Mercado Livre
Preço: R$ 29
Páginas: 112
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Em Minas, terra do culto à liberdade e com vocação para as tradições, a Revolução Liberal pode ser considerada um acontecimento político e histórico mais significativo do período imperial (1822 a 1889), devido, segundo os especialistas, “à forte consistência e expansão por todo o território e grande participação das elites dominantes polarizadas”.
Falar da Revolução de 1842 é também compreender o ambiente, os homens e o Brasil da época. O plano dos liberais era reivindicar o poder político e administrativo pela força, certos de que a primeira ação armada seria suficiente para intimidar os conservadores. Mas o movimento foi visto como golpe contra o Estado e o regime monárquico. Então, a corte imperial, temerosa de que o movimento irradiasse para as outras 16 províncias, tomou rápidas e enérgicas medidas. Em São Paulo, o movimento durou um mês, enquanto em Minas, então constituída por 42 municípios, dos quais 15 declaradamente revolucionários, se estendeu por 73 dias.
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