Barbosa Chaves
Santa Luzia acaba de completar 326 anos, no último dia 18 de março, mas tem pouco a comemorar. Os índices da cidade nas áreas de desenvolvimento humano, saúde, educação e segurança estão muito abaixo dos registrados por municípios vizinhos como Nova Lima e Lagoa Santa. E no ranking brasileiro, ficam próximos aos de cidades do sertão nordestino e da Baixada Fluminense, na região metropolitana do Rio.
Uma das primeiras povoações de Minas, que viveu seu auge no Ciclo do Ouro, Santa Luzia tem hoje um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,715. Ocupa um distante 1.454º lugar no ranking nacional. Está abaixo da média do estado de Minas Gerais, que é 0,731, e bem atrás dos primeiros colocados entre os municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O IDHM leva em conta três indicadores: expectativa de vida ao nascer, educação e renda média de cada habitante. O índice, elaborado pelo Programa de Desenvolvimento Humano das Nacões Unidas, varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano.
Nova Lima tem o melhor IDHM da Região Metropolitana e aparece em 17º lugar no ranking nacional, com 0,813. Betim, Contagem, Pedro Leopoldo, Lagoa Santa, Brumadinho, Sabará e Caeté também apresentam índices melhores que o de Santa Luzia, que ocupa a 150ª posição entre os municípios mineiros. Em nível nacional, IDHM de Santa Luzia é bem próximo ao de Nova Iguaçu (0,713), na Baixada Fluminense.
Pouco dinheiro pra muita gente
Os dados mais recentes sobre o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios brasileiros são de 2015. E, de novo, os números de Santa Luzia não são bons, principalmente quando analisados levando-se em conta o total de habitantes.
O PIB é a soma das riquezas produzidas por um país, estado ou município durante determinado período. Divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o principal indicador da atividade econômica de uma região.
Em 2015, o PIB de Santa Luzia foi R$ 3,245 bilhões, o 23 º maior do estado de Minas, mas pequeno se comparado ao de Contagem, que passou dos R$ 26 bilhões, ou de Betim, de quase R$ 24 bilhões. No entanto, bem maior do que o de Sabará, que foi R$ 2,2 bilhões, e mais de vinte vezes o de Rio Acima, que atingiu meros R$ 137 milhões. Ou seja, Santa Luzia tem um PIB médio em comparação com as outras cidades da região metropolitana.
Essa posição piora consideravelmente quando se analisa o PIB per capita, ou seja, a soma de todas as riquezas do município dividida pelo número de habitantes. Segundo o IBGE, em 2015 o PIB per capta de Santa Luzia era de pouco mais de R$ 15 mil por ano, muito abaixo da média nacional de R$ 28,8 mil per capta e menor do que o de algumas cidades do sertão paraibano, com Cajazeiras, com R$15,5 mil.
A comparação com os vizinhos da Região Metropolitana também é desfavorável a Santa Luzia. Em Betim, por exemplo, o PIB per capta ultrapassava R$ 56 mil por ano. Em Contagem, mais de R$40 mil. E mesmo cidades de porte similar apresentaram números bem melhores, como Lagoa Santa, onde o PIB per capta alcançou R$ 27,8 mil, ou Sabará, com R$ 16,4 mil.
Nota baixa
Na educação, Santa Luzia também tem pouco a comemorar. Segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), do Ministério da Educação, a nota média das escolas luzienses nos primeiros anos do ensino fundamental ficou em 5,7 em 2015, último dado disponível.
O IDEB é o índice que avalia a qualidade do ensino fundamental e médio no país desde 2007 e é calculado combinando dois indicadores: o aprendizado e o fluxo escolar. A nota reflete tanto os resultados das provas aplicadas pelo Ministério da Educação, como os níveis de aprovação e reprovação das escolas. A meta para 2021 é que todas as escolas cheguem à nota mínima de 6,0.
O índice alcançado por Santa Luzia representa uma melhora em relação aos anos anteriores (5,2 em 2011 e 5,6 em 2013) . Mas ainda está longe das notas alcançadas por escolas da rede municipal de outras cidades da Região Metropolitana. Nova Lima, por exemplo, teve nota de 6,4 em 2015. E Lagoa Santa alcançou 6,3.
Nos anos finais do ensino fundamental, a nota de Santa Luzia no IDEB é ainda mais baixa: 4,1. Essa tendência de piora do ensino nas últimas séries é observada em todo o Brasil.
Saúde na UTI
Se o panorama da educação em Santa Luzia é preocupante, o da saúde é extremamente grave. Não seria exagero dizer que a cidade está na UTI, se houvesse uma Unidade de Terapia Intensiva no município.
Depois que este artigo foi publicado, o prefeito interino, Sandro Coelho, reinaugurou o Hospital Municipal Madalena Parrilo Calixto, no centro, transformado em um pronto atendimento – “com 3 leitos de emergência, 4 leitos de pediatria, 16 leitos de observação, sendo 1 de isolamento e 16 pontos de medicação, sendo 4 de inaloterapia, além de 06 consultórios médicos, 01 sala de cirurgia/procedimentos, 01 sala de gesso/ortopedia, 01 sala de raio X, entre outros.” Atende nas seguinte especialidades: “Clínica geral, pediatria; cirurgia; ortopedia, com anestesista e neurologista 24horas (escala entre neurologista e cardiologista).” Mas até o início de abril de 2018, o Hospital Municipal Madalena Parrilo Calixto não atendia emergências e realizava apenas operações simples.
Existe ainda uma Unidade de Pronto Atendimento, em São Benedito. A UPA tem atualmente 28 leitos para pacientes adultos e 24 na pediatria. Após as obras de ampliação que estão em andamento, o número total de leitos deve subir para 65.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que haja pelo menos três leitos de hospital para cada mil habitantes. Ou seja, Santa Luzia deveria ter,no mínimo, cerca de 650 leitos. Hoje, o número disponível é de 82, somados os do Hospital e da UPA, o que representa cerca de 12% do recomendável. Nenhum desses leitos é destinado a pacientes de média e alta complexidade. Não há Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no município.
A UPA de São Benedito funciona como centro de triagem para pacientes do SUS. Alguns são encaminhados para o Hospital Municipal a dez quilômetros de distância, outros para Belo Horizonte. Em 2016, o Ministério Público abriu uma investigação sobre as causas do elevado número de mortes na unidade, uma média superior a
32 óbitos por mês.
Desde o fechamento do São João de Deus em 2015 , a cidade ficou sem maternidade, ou seja, há três anos não nascem bebês em Santa Luzia. O hospital atendia a cerca de 200 pessoas por dia e tinha usina de oxigênio, lavanderia e central de esterilização próprios. Durante quase dois séculos, foi o único da cidade. A Irmandade que administrava o hospital continua em negociação com a prefeitura para a reabertura do São João de Deus.
A taxa de mortalidade infantil é outro indicador negativo da saúde do município. Em 2014 era de 11,15 óbitos por mil nascidos vivos, índice próximo ao de Imperatriz, no Maranhão, e Taboão da Serra, na periferia de São Paulo, e praticamente o dobro da taxa de Nova Lima, com 6,49 óbitos em mil nascimentos.
Ainda assim, a taxa de Santa Luzia ficou abaixo da média brasileira que foi de 14,4 naquele ano. No estado, a cidade ocupa a desconfortável posição de número 410 entre 853 municípios no ranking da mortalidade infantil.
Sétima mais violenta de Minas
Além da baixa renda e dos problemas na saúde e educação, Santa Luzia está entre as cidades mais violentas de Minas Gerais. Segundo o Atlas da Violência publicado em 2017 e elaborado com base em dados de 2015 pelo Instituto Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o município é o sétimo do estado em número de assassinatos e mortes violentas sem causa determinada, com uma taxa 46.2 óbitos por cem mil habitantes.
A média do país em 2015 foi 28,9 mortes a cada grupo de cem mil habitantes, uma das mais altas do mundo. Ou seja, a taxa de óbitos violentos em Santa Luzia é 60% maior que a média nacional, que já é altíssima. No topo da lista das cidades mais violentas em Minas estão Betim (taxa de 65,2 para cada 100 mil habitantes), Vespasiano (56,5) e Sabará (54,3).
Com uma população estimada em 216 mil habitantes em 2015, Santa Luzia registrou 81 homicídios e 19 mortes violentas por causa indeterminada. A cada três dias e meio, um habitante da cidade morreu de forma violenta.