Luzienses se mobilizam para dar um basta à “farra imobiliária” na cidade

Luzienses se mobilizam para dar um basta à “farra imobiliária” na cidade
Apartamentos a venda em prédios construídos na região de São Benedito

Santa Luzia se mobiliza para questionar a explosão de empreendimentos imobiliários previstos para a Histórica Cidade. São milhares de habitações planejadas por construtoras como Tenda, MRV, Precon, Enccamp e outras em um município que não tem hospital, que oferece um atendimento de saúde abaixo da crítica, com escolas precárias, trânsito desordenado, ruas e avenidas em mau estado de conservação e níveis intoleráveis de insegurança. Não é à-toa que a cidade, outrora conhecida pela sua importância histórica, hoje está entre as 15 piores localidades de Minas Gerais para se viver, de acordo com pesquisa divulgada pelo site Brasil Financeiro.

Refletindo a profunda preocupação dos luzienses com essa situação, um grupo composto de três vereadores e várias outras pessoas da sociedade civil criou uma comissão, que realizou sua primeira reunião no último dia 7. O objetivo do encontro foi elaborar uma estratégia de ação para conter essa verdadeira tsunami de empreendimentos imobiliários em Santa Luzia. Como primeiro passo, os integrantes devem ter uma audiência com o promotor público da cidade, Marcos Paulo Souza Miranda.(?) A comissão se propõe a acompanhar bem de perto todas as decisões tomadas em relação às novas construções. E quer assegurar participação maciça da população nas audiências públicas que devem ser realizadas entre fevereiro e março de 2018.

TUDO PARADO
Depois da enorme repercussão da reportagem “Santa Luzia está sendo invadida por conjuntos habitacionais”, publicada na edição número de O Cidadão, a equipe do jornal foi à Prefeitura conversar com o secretário de Desenvolvimento Urbano, Sérgio Mota. Impossibilitado de participar da conversa por problema de saúde, o secretário, que reside em Nova Lima, foi substituído por Maria da Glória Pinheiro, titular da pasta de Meio Ambiente.

Nossa primeira pergunta foi sobre o Empreendimento Cidade Jardim – que prevê a construção de 1.104 apartamentos do programa Minha Casa, em 55 prédios, 60 casas geminadas, e lotes independentes para residências e atividades comerciais, além de um supermercado de 5 mil m2, e um shopping Center, de 10 mil m2 -, na antiga fazenda de Vicente Araújo, às margens do Rio das Velhas. A secretária informou que “está tudo parado”.

Glória Pinheiro explicou que a construtora Enccamp já entrou na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano com a proposta de parcelamento – demarcação de vias, etc – da área de mais de 500 mil m2 do Empreendimento Cidade Jardim. “As aprovações ainda não foram analisadas. Isso está parado” – afirmou, esclarecendo que “na parte ambiental, vamos solicitar estudos de impacto no trânsito, de impacto na vizinhança e outros.” É nessa hora, segundo a secretária, que os moradores da cidade terão maior força de decisão, pois poderão participar das audiências públicas para discutir a atualização do Plano Diretor do município. É o Plano Diretor que resultar das audiências públicas, lembrou a secretária, que definirá como Santa Luzia vai se desenvolver.

UM ABSURDO
Acompanhada de três assessoras, Glória respondeu nossas perguntas. Disse não ter qualquer informação sobre um possível plano da Cohab de construir casas na área que foi parte da fazenda Redelvim Andrade, conhecida como Monte Sião. E confirmou que o IEPHA, Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico, aprovou a construção do Condomínio Silva Jardim, em frente à loja Jamag, próximo à antiga fábrica de tecidos – um aglomerado de 25 casas geminadas que, com certeza terá forte impacto no trânsito local.

Quando questionada sobre o grande número de prédios sendo construídos nos bairros Chácaras Santa Inês, Duquesa e Baronesa (?), a Secretária de Meio Ambiente explicou: “O que aconteceu de 2013 para cá é que houve alteração na Lei Municipal. Essa alteração, aprovada pela Câmara Municipal, permite um adensamento populacional, principalmente na área de chácaras.” Ela também falou da criação de um fundo, previsto em lei e alimentado pelas construtoras, que será revertido em melhorias nas áreas ocupadas pelos conjuntos habitacionais.

Na conversa, deu para ver que a Secretária tem a melhor das intenções. Saímos da reunião e decidimos dar uma olhada na região das chácaras, antes de São Benedito, no sentido Santa Luzia-Belo Horizonte. O que vimos é inacreditável. Uma sucessão de prédios construídos em ruas incompatíveis com o movimento que os muitos moradores vão gerar. Quem vai lá agora se assusta com a visão de tantos prédios, todos vazios. Não dá nem para imaginar o que vai acontecer quando forem habitados. E há muitos, muitos outros projetados para a região.

ENTRE AS PIORES
O Brasil Financeiro (www.brasilfinanceiro.com) não chega a ser um site conhecido. De estrutura simples, gosta de fazer listas do que considera bom e ruim, nas mais diferentes áreas. Santa Luzia está lá, em décimo lugar, na relação que o site publicou das 15 piores cidades de Minas Gerais para se morar. Dois dados aparecem em destaque no artigo, que foi publicado em agosto: número de habitantes, 216.254, e a taxa de homicídios registrada na cidade, 46,2 por cada 100 mil habitantes.

Sobre a segurança em Santa Luzia, o Brasil Financeiro informa que, “segundo dados recentes, os roubos na cidade cresceram cerca de 76%, o que deixa os moradores inseguros, inclusive com medo de sair de casa.”
É nessa sofrida cidade, vítima de administrações deploráveis, que as construtoras estão fazendo sua farra imobiliária. Fonte: Jornal O Cidadão.

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