Santa Luzia está sendo invadida por conjuntos habitacionais

Santa Luzia está sendo invadida por conjuntos habitacionais
Condomínio Silva Jardim: um amontoado de casas em pleno Centro Histórico de Santa Luzia

 

Será quem está por trás do “Empreendimento Cidade Jardim”? Esta é a primeira pergunta que vem a cabeça quando se toma conhecimento do que planejam construir na antiga fazenda de Vicente Araújo, às margens do Rio das Velhas, defronte da ponte nova. Antes, porém, de qualquer questionamento, vejamos o que querem erguer na área de mais de 500 mil m2, na entrada para o Centro histórico de Santa Luzia.

Serão 1.104 apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida, distribuídos em prédios de cinco andares, com quatro apartamentos por andar – o que significa a construção de 55 prédios. Está previsto ainda a construção de 60 casas geminadas, de 105 m2, e a demarcação de lotes independentes, para residências e atividades comerciais, com área mínima de 300 m2 cada um – o número de lotes não está especificado. O empreendimento também prevê a construção de um supermercado de 5 mil m2, e um shopping Center, de 10 mil m2. A equipe de O Cidadão ouviu especialistas que, com base nestes dados, acreditam que o local será preparado para receber pelo menos de oito mil moradores.

Todas as informações que apresentamos acima constam de uma brochura de 178 páginas, da construtora Emccamp Residencial, obtida na Prefeitura de Santa Luzia, com um “Estudo Prévio de Impacto Cultural” do “Empreendimento Cidade Jardim”, como chamam esta pequena cidade que pretendem criar dentro de Santa Luzia. No calhamaço da Emccamp, de apresentação bonita, pode-se ler que serão criadas “áreas humanizadas” para a convivência das pessoas, mas não há definição do que consistirão estas áreas. Na planta baixa anexada à brochura, pode-se ver também cinco prédios mais altos voltados para a Avenida Beira-Rio. Mas não é feita qualquer menção a eles na relação de construções.

Vivendo uma situação política conturbada, com três prefeitos em menos de um ano e uma nova eleição à vista, Santa Luzia encontra-se abandonada à própria sorte. Após tanta luta, o único hospital da cidade permanece fechado. Há anos, não nasce um luziense. Toda grávida que mora em Santa Luzia tem que procurar um hospital em Belo Horizonte para ter filho. A saúde como um todo no município vive em situação calamitosa. Há problemas sérios no setor educacional – há tempos não se constrói uma escola na cidade. Apesar de já ter mais de 200 mil habitantes, o transporte público continua nas mãos de uma única empresa. Monopólio que só prejudica os usuários. Merece um capítulo à parte a questão da segurança – ou da insegurança. Nunca Santa Luzia esteve tão à mercê dos fora da lei.

Mesmo toda desestruturada como cidade, os conjuntos habitacionais, trazendo mais gente para compartilhar problemas, não param de chegar. O número deles previsto em todas as partes da cidade é assustador. Na Rua Silva Jardim, a 300 metros do cemitério, em frente à loja Jamag e à sede do Rotary, está sendo construído o Condomínio Silva Jardim, com 25 casas geminadas, de dois e três quartos, previstas para entrega em outubro de 2018. Serão no mínimo 100 pessoas e muitos carros ocupando aquele espaço. Mais para baixo, na mesma Silva Jardim, depois da Avenida Raul Teixeira, uma placa imensa anuncia a construção no local do “Residencial Londres”, com vários prédios, num total de 66 apartamentos, de 43 m2 e dois quartos.

Farra das construtoras: um mundo de prédios construídos em áreas sem qualquer infra-estrutura

Pouco antes do portal de entrada de Santa Luzia, em Bicas, no antigo posto Sossego, divisa de Belo Horizonte com Santa Luzia, já há um estande de vendas, onde se pode comprar na planta um dos 2.280 apartamentos de dois e três quartos que serão construídos pela Emccamp no lugar. Conhecido como Parque Cerrado, inclui o Residencial Guará, Residencial Araguaia e Residencial Paineira e é definido pela Emccamp como “o maior empreendimento do Minha Casa, Minha Vida em Belo Horizonte.” Serão mais pelo menos 10 mil pessoas ali, na entrada da cidade.

No Novo Centro de Santa Luzia, também já estão sendo oferecidos apartamentos e casas na planta em vários “residenciais” a serem construídos lá. A reportagem de O Cidadão não conseguiu confirmar a informação que circula na cidade que a Cohab tem planos de construir centenas de casas nos fundos da antiga fazenda Redelvim Andrade, perto da área conhecida como Monte Sião.

Como se vê são inúmeros os projetos para trazer novos moradores para uma cidade que não consegue atender as necessidades mais básicas de seus atuais moradores. E é preciso ressaltar que nenhum desses projetos terá impacto maior no coração de Santa Luzia do que o “Empreendimento Cidade Jardim.”

O que chama a atenção é que tudo está sendo feito na surdina. A reportagem de O Cidadão foi duas vezes ao estande de vendas que a Emccamp está construindo no início da Avenida Nossa Senhora do Carmo. Em ambas as vezes recebeu de funcionários da empresa a informação que ainda não se sabe o que será construído na área. Telefonamos para a sede da empresa, em Belo Horizonte – Rua Gonçalves Dias, 744, Funcionários, telefone: 3526-7455. A funcionária que nos atendeu repetiu: aqui não há nada sobre esse projeto.

O “Empreendimento Cidade Jardim” surgiu a partir da Lei Nº 3623, de 22 de dezembro de 2014, na gestão do então prefeito Carlos Calixto. Mas no Estudo Prévio de Impacto Cultural não há sinal que tenha sido aprovado pelo IEPHA – Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico. O estudo, aliás, tem o desplante de dizer em uma de suas muitas páginas que, em termos culturais, o empreendimento não terá qualquer impacto na parte histórica da cidade. E nem mesmo vai afetar seu visual. Como podem dizer isso quando projetam 55 prédios de cinco andares para o local? Como pretendem trazer oito mil ou mais pessoas para aquela faixa de terra e afirmar que não vai acontecer nada ao redor?

Há tantas perguntas que precisam ser respondidas: onde é que irá parar o esgoto de toda essa gente? No pobre Rio das Velhas, ele próprio já transformado numa calamidade a céu aberto? Em que escolas estudarão as crianças moradoras do lugar? Como é que vai ficar o transporte público com tantos novos usuários? E o trânsito na área? Como estes novos habitantes vão lidar com a total falta de assistência médica na cidade?

São todas perguntas para as quais a população de Santa Luzia quer muito saber as respostas.Por isso, voltamos à pergunta inicial: Quem será que está por trás do “Empreendimento Cidade Jardim”? Fonte: Jornal O Cidadão.

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3 Comments

  • Victor Santos Assunção
    23 de maio de 2018, 20:49

    Não consigo compreender quantidade de material coletado pelo site para simplesmente atacar as construtoras.
    Até momento de todas as matérias q eu li nenhuma fala que irá trazer algo de positivo para região.
    Será que vocês sabem que sera construído um mercado apoio mineiro gerando emprego..será q vcs sabem que em breve os mesmos condomínio que estão sendo construídos podem dá emprego para pessoas da região?
    Gostaria de entender o ataque as construtoras!
    Sou futuro morador da cidade.. e protejo a cidade de uma forma parecendo ser nascido e criado.
    Tenho que cuidar do que será meu é da minha família.
    Pense nisso.
    A história da cidade sim tem que ser preservada…mas pensem no futuro.

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    • Maya Santana@Victor Santos Assunção
      26 de maio de 2018, 22:13

      Victor, não estamos contra construtoras nem contra novas construções em Santa Luzia. O que defendemos é que, antes da construção de qualquer conjunto habitacional, grande ou pequeno, seja feito o estudo de impacto de vizinhança, como acontece em todas as outras cidades. Santa Luzia não tem hospital, depende de um transporte público absurdamente sucateado, tem problema de vaga nas escolas, não possui sequer uma área de lazer. Sem falar no trânsito, que se tornou perigoso, porque as vias são estreitas, a movimentação de veículos muito intensa e a sinalização deficiente. Como trazer, desordenadamente, como está acontecendo, mais gente para morar numa cidade tão carente de serviços básicos? Mais gente, mais casinhas e mais apartamentos não significam, de forma alguma, mais progresso. Para nós, progresso é dar educação a todos os moradores em idade escolar. É assegurar um atendimento de saúde digno para todos. É garantir um transporte público seguro. É dar segurança à população. Não temos nada disso. É preciso muita atenção com o que vem acontecendo com a cidade, antes que ela se torne inviável. Forte abraço pra você e bem-vindo a Santa Luzia!

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    • GLAYSON @Victor Santos Assunção
      20 de junho de 2018, 08:39

      Futuro…estamos cuidando das questões ambientais…e fazendo cumprir as leis….
      A cidade está sendo invalidade por essas construtoras q só pensam no financeiro!
      Vai ligar pelo meio ambiente. E vamos denunciar e denunciar. E não vem c esse discurso q se considera um moradoras q gosta da cidade e tal….vc certamente não conhece a realidade de nossa cidade!tem q embarcar mesmo!

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