Luzias
Custa crer que a empresa Taquaril Mineração S/A(Tamisa) seja mineira e tenha a sua sede exatamente em Belo Horizonte. Conhece muito bem, portanto, a importância vital da Serra do Curral para a capital mineira. Pois é essa mineradora a responsável pelo projeto, aprovado há poucos dias pelo órgão ambiental do governo de Romeu Zema (Partido Novo), que pretende reduzir literalmente a pó (minério de ferro) o cartão postal da cidade.
A aprovação do projeto pelos integrantes do Conselho Estadual de Política Ambiental – Copam – se deu na calada da noite. Os conselheiros “seguiram o padrão histórico de aprovar quase que integralmente o que as mineradoras desejam e deram o aval por 8 votos a 4 para a Taquaril Mineração já às 3h da manhã, após mais de 18 horas de reunião, em que centenas de pessoas da sociedade civil se inscreveram para se manifestar. Muitas não puderam falar,” conta Mauricio Angelo, do site Observatório da Mineração.
Com certeza, nem a mineradora nem o governo Zema esperavam a gritaria geral, os fortes protestos por todo canto, não só em Minas, mas no Brasil inteiro, pela audácia de querer por abaixo um símbolo histórico e cultural da cidade.
Prefeito de BH quer suspender licença
O Prefeito de BH, Fuad Norman, que substitui Alexandre Kalil (candidato ao governo de Minas) está prometendo acionar a justiça para barrar essa insanidade: a previsão é da retirada, apenas numa primeira etapa, de 31 milhões de toneladas de minério de ferro, “numa região cercada por tombamentos históricos, nascentes e áreas de recarga de água,” como alerta o site leia.org.br.
Na Assembléia Legislativa também houve reações. O deputado Rafael Martins, presidente da comissão de Minas e Energia, foi taxativo: “Na segunda-feira, entrarei na Justiça para tentar barrar esse absurdo. Também convocaremos os conselheiros da Copam para que expliquem a decisão. E dessa vez a reunião não será na calada da noite.” ironizou.
Apesar das tragédias de Mariana e Brumadinho, que mataram centenas de pessoas e prejudicaram para sempre a vida de milhares de outras, com ações que até hoje se arrastam na Justiça, a mineração em Minas avança celeremente na administração Zema, candidato à reeleição nas eleições de outubro, acusado de aliado das mineradoras. Nesse ano eleitoral, as denúncias contra o governo estadual na área de meio ambiente se multiplicam.
Um dos maiores absurdos
A aprovação do projeto que prevê o fim da Serra do Curral, no dia 30 de abril, vem sendo duramente condenada. As redes sociais fervilham com críticas. Veja algumas das reações:
“A autorização p/este empreendimento é um dos maiores absurdos da história da mineração no Brasil. A depredação sistemática do patrimônio natural já está custando caro a MG. A proteção da Serra do Curral foi atropelada pela ganância. Inacreditável!” – André Trigueiro, ambientalista e apresentador.
“Um crime contra Minas Gerais foi articulado pelo governo Zema e mineradoras. Está legalizada a destruição da Serra do Curral. Uma reunião virtual, irregular, que durou 18 horas, a mineração predatória avança. Brumadinho e Mariana não foram suficientes para inverter a lógica” – Iza Lourença, vereadora (Psol) de BH.
“O cartão postal de Belo Horizonte, já comido pela mineração, tende a desaparecer. A sociedade civil bem que tentou, mas com os conselheiros na mão de mineradoras, a Serra do Curral sofre mais um ataque. Vai faltar água” – Maurício Angelo @distopi, do site observatório da Mineração.
“O empreendimento vai destruir o que resta da Serra e afetar a saúde e a qualidade de vida da população. É um projeto considerado de alto impacto ambiental – enquadrado na classe 6, a categoria mais alta na legislação” – Movimento Tira o Pé da Minha Serra,
Quem são os conselheiros e como votaram
Dos 12 integrantes do Copam, oito votaram a favor do projeto de Tamisa e quatro se manifestaram contra. É preciso que todos conheçam os homens e mulheres responsáveis pela decisão que pode afetar a vida dos três milhões de moradores de Belo Horizonte.
Votaram a favor:
A representante da Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais (Segov), Verônica Cunha Coutinho, foi favorável pela exploração minerária na área.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico Estadual (Sede) estava representada por Maria Eugênia Monteiro e também votou a favor da exploração de minérios na Serra.
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, representada por Joana Moraes Rebelo Horta, seguiu as demais representantes do governo estadual e também votou a favor da exploração.
A Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig), representada por Paulo Eugênio de Oliveira, deu voto a favor da exploração minerária.
A Agência Nacional de Mineração (ANM) foi representada por Claudinei Oliveira Cruz que votou a favor da mineração na Serra do Curral.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Paracatu e Vazante (Sindiextra) representada por Denise Bernardes Couto votou a favor pela exploração minerária.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), representada por Thiago Rodrigues Cavalcanti, também votou a favor da mineração na área.
A Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), representada por Carlos Orsini Nunes de Lima, votou a favor da mineração.
Votaram contra:
A Promutuca que estava representada por Tobias Tiago Pinto Vieira também votou contrária a exploração de minérios na Serra do Curral.
A Fundação Relictos que estava representada por José Ângelo Paganini votou contra a exploração minerária.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estava representado por Pedro Paulo Ribeiro e votou contra a exploração no local.
A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), representada por Valter Vilela Cunha, deu voto contrário a mineração na área.
A Serra do Curral vem sendo destruída há muito. Para ver, clique aqui:
https://m.facebook.com/profile.php?id=100074544024211
1 Comment
Maria Elisa
1 de maio de 2022, 22:03Ótimo artigo. Em que pese falar da nossa tragédia, ele nomeia os bois e mostra a sandice da empreitada.
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