Poeta Olavo Bilac: Santa Luzia é uma tradição viva da bravura mineira

Poeta Olavo Bilac: Santa Luzia é uma tradição viva da bravura mineira
Coreto na praça da Estação Rio das Velhas, vista ao fundo. Foto: acervo Ítalo Massara

Beto Mateus

Os preparativos para a construção da nova capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, no início da década de 1890, trouxeram algumas personalidades para conhecer o novo centro administrativo estadual. Assim, no ano de 1894, o jornalista e príncipe dos poetas Olavo Bilac (1865-1918) esteve no antigo Curral Del Rey para conferir os preparativos da nova cidade que seria construída. Como jornalsta do jornal Gazeta de Notícias, em linguagem poética, o jornalista vai refazendo todo o seu trajeto. Como fez parte da viagem por meio dos trilhos da antiga Central do Brasil, o roteiro de Bilac incluiu Santa Luzia, uma vez que a variante para Belo Horizonte ainda não estava concluída. O trecho a seguir foi publicado na edição do Gazeta de Notícias (RJ) em 26 de janeiro de 1894, intitulado Bello Horizonte – A nova capital de Minas:

Passamos por Honório Bicalho, Santo Antônio, Sabará, Raposos e chegamos à estação do Rio das Velhas às 3 horas da tarde.

Olavo Bilac, o príncipe dos poetas, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras

À diminuta distância da estação, ao alto, está a cidade de Santa Luzia, célebre na história de Minas por ter sido nela travada a última batalha da famosa revolução liberal de 1842 jugulada a custo pelo Duque de Caxias. É uma pequena cidade que não difere do comum das cidades do interior: uma rua comprida, calçada, tendo ao fundo a matriz, com outras ruas irregulares que a cortam. Em certas casas, vêem-se os sinais das balas de 42 e, modesta como é na aparência, Santa Luzia é uma tradição viva da bravura mineira, lembrando essa revolução popular que o exército do governo só conseguiu sufocar, dificilmente, graças à traição que entregou a Caxias o último reduto dos revoltosos.

Depois do jantar, montamos a cavalo. Declina a tarde. Um vento fresco sacode as árvores. Deixamos a estação do Rio das Velhas entregue ainda à sua agitação comercial: sobre a lama da estrada trotam tropas de bestas, com a madrinha à frente, de campainha tilintando ao pescoço; rincham carros de bois, morosamente ao passo tardo das juntas que se atolam; e carroças carregadas de fardos ficam paradas, sem animais, rodeando a gare, onde manobra uma locomotiva, silvando.

De propósito, contemos os cavalos, caminhando a passo. Uma doçura indescritível paira no ar. O crepúsculo cai. Sobe uma coluna de ouro e púrpura no ocaso. Uma primeira estrela, Vênus, palpita ao fundo do horizonte. Cantam águas correntes dentro de moitas cerradas.

E já é noite completa, e o luar espia por detrás de uma montanha, quando ao fundo do terreiro da fazenda das Lages, avistamos a grande casa branca, de janelas iluminadas, rasgando-se para a varanda amplíssima, de onde golfam para a noite vozes e risadas de crianças, de envolta com as notas de um piano…

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