Santa Luzia recebe de volta hoje a imagem de Santa Rita de Cássia e de um crucifixo, retirados da Paróquia São João
Batista em 1969. Cidade agora espera pela descoberta do paradeiro de Nossa Senhora das Graças
Gustavo Werneck
Estado de Minas
Uma comunidade em festa para receber dois bens espirituais e culturais e também na expectativa de que retorne a última imagem desaparecida de seu acervo. Na noite desta terça-feira (16), moradores do Bairro da Ponte, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, vão comemorar a volta da imagem de Santa Rita de Cássia e de um crucifixo, peças ausentes do templo católico há 55 anos.
Durante missa celebrada, às 18h, pelo titular da Paróquia São João Batista, padre Marcos Antônio Gomes, as peças serão entregues pela titular da Sexta Promotoria da Comarca de Santa Luzia, promotora de Justiça Laura Figueiredo, e pelas historiadoras Neise Duarte e Paula Carolina Novais, ambas da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
“É um motivo de grande alegria, pois esperamos esse dia há muito tempo. Começamos a campanha para devolução das imagens em 2010, e falta ser devolvida apenas a de Nossa Senhora das Graça, da qual, infelizmente, não se tem registro fotográfico. Temos informações sobre o paradeiro, e o MPMG cuida do caso. Estamos confiantes em trazê-la de volta, pois é o patrimônio da paróquia há mais de 100 anos”, diz a professora Sandra Gabrich, voluntária integrante da comissão paroquial.
O momento é muito importante para a comunidade, explica Sandra: “Depois de muito trabalho e intervenção da Sexta Promotoria de Justiça de Santa Luzia, a imagem de Santa Rita volta ao seu altar. Para nós, da paróquia, significa a retomada da história,de uma vivência, pois faz parte da nossa vida e fez parte da vida de nossos pais e avós. Assim, resgatamos o passado e garantimos a beleza do futuro”.
PEÇAS RESGATADAS Nos 14 anos decampanha iniciada pelos voluntários Sandra Gabriche e Cristiano Massara, conforme reportagenspublicadasnoEstadode Minas, a comissão paroquial já conseguiu resgatarcincopeçassacras,hojenosaltaresdaedificação em estilo neogótico e tombada pelo município.
Desde o início da ação, foram restituídas as imagens de Santa Terezinha do Menino Jesus, São José, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,São Vicente de Paulo e Anjo da Guarda. Com 60 centímetros de altura e um pedestal de 10 centímetros, a imagem de Santa Rita de Cássia deverá ser restaurada ,o que será providenciado pela paróquia. O crucifixo já passou por essa etapa, segundo Sandra Gabrich. “Ficou lindo!”, observou.
De forma específica, a imagem de Santa Rita foi incluída na campanha “Boa Fé”, conduzidapeloMPMGdesde2023. As peças começaram a ser devolvidas em 1º de maio de 2011, conforme documentou o EM, estando em poder de particulares desde 1969. Naquele ano, durante reforma do templo, um padre distribuiu as peças sacras entre paroquianos, pedindo a cada um que zelasse pelo bem religioso e cultural.
Conforme a comissão paroquial apurou em pesquisas e entrevistas com pessoas da comunidade, incluindo antigos zeladores que conhecem toda a história, que quatro objetos de fé foram restituídos bem antes da atual campanha: as do padroeiro, São João Batista, e de São Sebastião, na década de 1970, e a de Nossa Senhora da Conceição, em 1995.
“As famílias foram guardiãs das imagens, alguns cuidaram de tal forma, que até mandaram restaurá-las”, disse o biólogo Cristiano Massara, também integrante da comissão paroquial para localização dos bens. Uma imagem de São Benedito, também pertencente à capela, foi doada à Paróquia São Benedito (na época de sua criação), que fica no distrito de mesmo nome, em Santa Luzia.
“Logo após o lançamento da campanha “Boa Fé”, pelo MPMG, um dos primeiros casos que recebemos foi o da imagem de Santa Rita de Cássia, de Santa Luzia”, destaca o coordenador da CPPC/MPMG, promotor de Justiça Marcelo Azevedo Maffra. Após as análises técnicasnecessárias,foiagendadaa devoluçãoda peça à comunidade.
“Em se tratando de bens culturais móveis, para além da conservação física, o MPMG também se preocupa com a manutenção desses bens nos respectivos locais de origem, onde eles representamos valoresda comunidade e são usados como suporte para outras inúmeraspráticas emanifestações culturais”, ressaltaMaffra.
Ele explica que “o desaparecimento priva a comunidade da fruição coletiva, ao afastá-lo do seucontexto”. A campanha “Boa fé”, desenvolvida pela CPPC, foi lançada para estimular a devolução voluntária de bens que integramo patrimônio cultural do estado, mediante ações de educação, conscientização e incentivo à restituição de bens culturais aos locais de origem.“Qualquer pessoa,física ou jurídica, que detenha bens culturais de fruição coletiva, que, por qualquer motivo, tenham sido retirados do seulocal de origem, pode participar.
Trata-se de uma atuação negocial, resolutiva, voltada a evitar a deflagração de ações judiciais eabusca e apreensão dos objetos”, diz Marcelo Maffra. Emais:“Emboradiversosbens culturais tenham sido clandestinamente subtraídos e ilegalmente comercializados, há situações em que os detentores adquiriram ou receberam os objetos sem conhecer sua origem ilícita. Em outros casos, da mesma forma, obras de arte e antiguidadede procedência incerta são transmitidas por herança e, não raramente, permanecem por décadas em poder de detentores de boa fé”.
Entenda o caso
1969, durante obra na Capela São João Batista, em Santa Luzia (RMBH), um padre pede às famílias do Bairro da Ponte, que guardem, em suas casas, as peças do acervo religioso. ●Na década de 1970, uma família entrega a imagem do padroeiro, São João Batista, e um crucifixo, enquanto outra devolve a de São Sebastião.
Em 1995, é restituída a imagem de Nossa Senhora da Conceição. ●Em 2010, a Paróquia São João Batista, com voluntários, inicia uma campanha para resgatar as peças sacras restantes. ●Em 1º de maio de 2011, são entregues três imagens: Santa Terezinha do Menino Jesus, São Vicente de Paulo e Anjo da Guarda. ●Também em 2011, foram devolvidas as imagens de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e São José
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