Garimpo no Rio das Velhas, perto da ponte? Santa Luzia não aceita esse absurdo

Garimpo no Rio das Velhas, perto da ponte? Santa Luzia não aceita esse absurdo
Com águas escuras e viscosas, o Rio das Velhas grita por recuperação e não por mais destruição. Foto: Luzias

Ricardo Lima

Luzias

Mais de dois séculos após o final do Ciclo do Ouro em Minas Gerais e mais de 70 anos depois de uma draga inglesa de mineração de ouro assorear o Rio das Velhas em Santa Luzia e Sabará, novamente o nosso rio é alvo da ganância pelo ouro.

O empreendimento, Dragagem Santa Luzia LTDA – DSL, tem a pretensão de realizar a atividade de extração mineral e drenagem no velho e sofrido rio.

A previsão é de uma produção de até 50.000 m³/ano de dois minerais, areia e ouro.

O local da intervenção tem aproximadamente 1,96ha, sendo 1,08ha pleiteadas para supressão vegetal (retirada de toda vegetação) na margem direita do rio das Velhas – avenida Raul Teixeira da Costa Sobrinho, n.º 2498, bairro Boa Esperança, área urbana de Santa Luzia.

Acintosamente na contramão do novo Plano Diretor da cidade, que prevê a criação da Área de Interesse Especial do Rio das Velhas, para a proteção ambiental, o empreendimento quer atuar numa parte alagável do rio.

É essa área que contém o volume da água em caso de inundação. E pode ser “engolida” num possível rompimento de barragem de rejeito de minério nas cidades acima, como Nova Lima.

Essa forma de “garimpo” deixa as águas muito turvas, ameaça o ecossistema aquático e pode devolver à superfície e ao fluxo do rio metais pesados e outras substâncias tóxicas que foram depositadas no fundo do curso d’água em séculos de mineração predatória no Estado de Minas Gerais.

O rio é a própria imagem da tragédia ambiental que estamos vivendo. Foto: Luzias

O Estudo de Impacto de Vizinha (EIV) apresentado pelos responsáveis pelo empreendimento não aponta os impactos decorrentes dos processos erosivos e demais que possam existir, não cita medidas preventivas, mitigadoras e/ou compensatórias, nem apresenta em mapa analise dos bens imóveis acautelados no âmbito municipal e dos sítios arqueológicos em maior proximidade da área a ser explorada.

Além da fragilidade do estudo apresentado, pelo menos três sócios da Dragagem Santa Luzia LTDA (leia abaixo) foram alvo da Polícia Federal nas Operações  Rejeito e Poeira Vermelha, que investigam um esquema de fraudes em licenças ambientais envolvendo mineração.

O Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac) discutiu nessa quinta-feira(9) o EIV referente à atividade a ser desenvolvida pela Dragagem Santa Luzia Ltda e votou pela suspensão do processo. Vários conselheiros pediram vistas do processo, explicando que não receberam todos os documentos do processo. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano se comprometeu a disponibilizar para os conselheiros, todos os documentos do processo. O assunto será debatido novamente na reunião de novembro.

Agora, a população de Santa Luzia conta com o bom senso dos conselheiros.

Não podemos deixar que a cidade seja explorada dessa forma predatória, para enriquecer apenas uns poucos, prejudicando de maneira tão descarada seus moradores. Não vamos aceitar!

O jornal O Tempo publicou um pequeno perfil dos três sócios e administradores da Dragagem Santa Luzia Ltda:

Jamis Prado de Oliveira Junior (“Juninho”): Membro antigo do grupo e réu na “Operação Poeira Vermelha”, auxiliava Lombardi na indicação de empresas de fachada para saques e pagamentos de propinas. Utilizou a empresa de sua esposa, Valefort Comércio e Transporte Ltda., que recebeu R$ 19,3 milhões da Fleurs Global.

Lucas Fraga Cruz Cerqueira: Ex-gerente operacional das minas, era sócio de empresas como Per Capita Participações e LFC Participações Ltda, utilizadas como “contas de passagem” para recursos ilícitos (mais de R$ 1,2 milhão da Fleurs Global em 2024), convertendo valores em espécie para propinas.

Rafael Nogueira Brandão: Engenheiro de minas e gerente ambiental do grupo, atuou nas operações ligadas à Patrimônio Mineração e era “laranja” na Minerar Participações. Também criava listas de monitoramento de autoridades públicas.

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