Santa Luzia, na Grande BH, festeja os 280 anos da paróquia e do jubileu da padroeira, também protetora dos olhos, no santuário recheado de mistérios e de histórias que desafiam os pesquisadores.
Gustavo Werneck
Estado de Minas
Um altar oculto, dourado, com símbolos enigmáticos. Uma pintura encontrada há dois anos mostrando o martírio da padroeira. E três anjos barrocos resgatados num leilão. Mistérios, descobertas, histórias e algumas lendas, como a de um soldado que se escondeu num gavetão, durante a Revolução Liberal de 1842 (entre as tropas de Caxias e Teófilo Otoni), povoam o Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, em Santa Luzia, na Grande BH. O templo completa 280 anos e festeja a data durante o tradicional jubileu dedicado à protetora da visão, que começa na quinta-feira (28) e vai até 15 de dezembro, com o grande dia no próximo dia 13.
“Completamos 280 anos da paróquia e do jubileu. Então, todo o período será festivo. A devoção a Santa Luzia é muito anterior à criação da paróquia, pois essa pertencia à de Roça Grande, em Sabará. A partir de 1744, no antigo Arraial do Bom Retiro, nossa paróquia começou sua vida própria”, explica o reitor do santuário de Santa Luzia, padre Felipe Lemos de Queirós.
Quando a paróquia foi criada, ainda não existia a Arquidiocese de Mariana (de 1745), a primeira de Minas e sexta do país. Assim, o bispo do Rio de Janeiro, dom Frei João da Cruz, cria a Paróquia Santa Luzia, que passa a pertencer a Mariana. Muito depois, em 1921, ela começa a fazer parte territorialmente da então instalada (1921) Arquidiocese de Belo Horizonte. “Inúmeros padres passaram por aqui, são muitas as histórias. A Paróquia Santa Luzia é a ‘mãe’ das outras que ficam no entorno, a exemplo de Lagoa Santa e Taquaraçu de Minas. Todas são ‘filhas’ de nossa paróquia”, observa o reitor.
Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), o Santuário Santa Luzia é considerado um dos templos católicos mais seguros do estado, dispondo de moderno sistema de vigilância. Tornou-se também símbolo das campanhas de bens culturais devido ao resgate, em 2003, de três anjos barrocos que iram a leilão no Rio de Janeiro (RJ). As peças sacras podem ser contempladas na nave: dois ladeando a tarja do arco-cruzeiro e outro, o do sepulcro, no coroamento do altar de Nosso Senhor dos Passos. Destaque ainda para o painel “Martírio de Santa Luzia”, do século 18, com 4 metros de altura e totalmente restaurado.
TRÊS ESTILOS Conforme pesquisa da historiadora Elizabete de Almeida TeixeIra Tófani, a capela primitiva dedicada a Santa Luzia foi erguida por volta de 1701, formando-se no entorno um rancho para tropeiros que chegavam da Bahia a fim de abastecer a região das minas de ouro. “No início, quando era capela, a edificação ficava de frente para a Rua do Serro. Ao se tornar igreja, ficou virada para a Rua Direita, como está hoje.”
A história se completa com informações contidas no Inventário do Patrimônio Cultural da Arquidiocese de BH/PUC Minas. Entre 1721 e 1729, a capela foi ampliada por iniciativa do capitão-mor João Ferreira dos Santos e de outros pioneiros, com apoio do padre Lourenço de Valadares Vieira, vigário de Sabará. Assim, o templo se tornou capela filial da Freguesia de Santo Antônio de Roça Grande, pois Santa Luzia estava vinculada à Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará.
Mas nem tudo foi tranquilo nos primórdios da paróquia criada em 19 de novembro de 1744. A população de Roça Grande, por perder a posição da sede, foi se queixar ao bispo. Relatos do cônego Raimundo Trindade, autor de “Instituições de igrejas no bispado de Mariana” mostram que a transferência foi anulada pelo desembargador do Paço da Bahia e só regularizada bem mais tarde, em 29 de fevereiro de 1780, por meio de ordem régia.
De 1744 a 1778, a pequena construção sofreu alterações, tendo contribuído nos serviços o sargento-mor Joaquim Pacheco Ribeiro, em agradecimento à cura da visão, conta Elizabete Tófani, que destaca o apuro ornamental do interior do templo com três fases estilísticas do período colonial: “Além da excepcional qualidade do entalhe da segunda fase do barroco (estilo dom João V), a igreja apresenta o requinte do rococó e a linguagem despretensiosa dos padrões neoclássicos”. Ao longo dos séculos 19 e 20, houve intervenções arquitetônicas e artísticas, algumas alterando a fachada original, outras promovendo a conservação.
Quem visita o santuário pode ver, atrás do altar de São José (passando pela Sala dos Milagres), um retábulo descoberto em 1989, durante a grande obra de restauro. Lá estão sobre a madeira, em douramento, um esquadro (para os maçons, símbolo de retidão e integridade de caráter; e um compasso, que representa equilíbrio, justiça e vida correta). Não há qualquer estudo conclusivo se estariam ligados aos maçons ou não, apenas suposições. Os desenhos permanecem como um enigma a desafiar os pesquisadores…e o tempo.

O templo completa 280 anos e festeja a data durante o tradicional jubileu dedicado à protetora da visão, que começa na quinta-feira (28) e vai até 15 de dezembro, com o grande dia no próximo dia 13. Foto: Beto Mateus
SERVIÇO
Jubileu de Santa Luzia, em Santa Luzia, na Grande BH
De 28 de novembro a 15 de dezembro
Datas importantes: 13 de dezembro, Dia de Santa Luzia, com procissão luminosa às 18h, e 15 de dezembro, Dia dos Romeiros, com o cortejo após a missa das 17h.
UM MONUMENTO EM BRONZE…
Os romeiros chegam de todo canto e por todos os meios de transporte. Em Congonhas, não é diferente. Em setembro, durante o jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, famílias inteiras participam das cerimônias no santuário que é Patrimônio Mundial. Para marcar a presença dos peregrinos na “Cidade dos Profetas”, foi inaugurado, na Romaria, um monumento, em bronze, feito pelas mãos do escultor, filho da terra, Luciomar Sebastião de Jesus.
…PARA HOMENAGEAR OS ROMEIROS
O monumento fica na frente da Casa do Romeiro, inaugurada neste ano, no Centro Cultural da Romaria. A família (um casal e dois filhos) chegou de trem e parece estar posando para uma foto, numa cena na década de 1940, então auge da antiga Romaria. Tombada pelo Iphan (1939), Iepha-MG (1978) e município (2002), a Romaria, em formato circular, foi erguida na década de 1930 para hospedar os fiéis. Em 1968, ocorreu demolição parcial para ser edificado, no lugar, um hotel. Já em 1995, o bem foi reconstruído. Atualmente, há, na Romaria, serviço de informações aos turistas, auditório e outros equipamentos sob gestão da prefeitura local.
((((((((((((((((PAREDE DA MEMÓRIA)))))))))))))))))))))))))
FOTO: MUSEU ABÍLIO BARRETO/REPRODUÇÃO (FOTO DO CORREIO)
Ao passar na Avenida Afonso Pena, esquina com a Rua Tamoios, no Centro de BH, impossível não notar as modificações no Edifício Sulacap. Saiu de cena o anexo – construído na década de 1970 e considerado um “corpo estranho” pelos arquitetos e urbanistas – para dar lugar à Praça da Independência em integração ao Viaduto Santa Tereza. A intervenção faz projeto “Centro de todo mundo”, da PBH. Mas é bom lembrar que nesse endereço havia um dos prédios mais imponentes da capital: o do Correios e Telégrafos. Demolido na década de 1940, só existe agora em algumas lembranças e arquivos. Como no retrato de 1935, do acervo do Museu Histórico Abílio Barreto, que mostra a beleza do prédio em estilo eclético que começou a ser erguido em1904.
(((((((((((((((((((((((((((((((((NOTAS)))))))))))))))))))))))))))))))))
DIVULGAÇÃO
PÁGINAS DE OURO
“Cidades Históricas de Minas Gerais” é o nome do livro com informações e fotos sobre 33 municípios que mantêm valioso patrimônio cultural. Nesse convite a explorar tantas maravilhas, a maioria vinda lá do Ciclo do Ouro, o leitor encontra obras de Aleijadinho, Ataíde, Servas e outros artistas que fazem a grandeza do estado e atraem visitantes de todo o mundo. Já houve um lançamento em Itapecerica, no Centro-Oeste, estando os próximos programados para 7 de dezembro, em Conceição do Mato Dentro, e de 10 de dezembro, no Palácio da Liberdade, em BH. Informações na Editora Lucca Cultura (www.luccacultura.com.br) ou pelos telefones (31) 3286-6711 e 99108-9234.
FOTO: HUGO DE CASTRO MACHADO/DIVULGAÇÃO ((((FOTO DO CENTRO CULTURAL DE POMPÉU)))
JOAQUINA DO POMPÉU
A cidade de Pompéu, no Centro-Oeste, vai lembrar em 7 de dezembro os 200 anos de falecimento de Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco, a célebre Dona Joaquina do Pompéu. Ela nasceu em Mariana, em 1752, e, ainda criança, se mudou com a família para Pitangui. A memória dessa mineira poderosa está bem preservada em Pompéu, onde, em 20 de agosto de 2011, foi inaugurado o Centro Cultural Dona Joaquina de Pompéu (foto), reunindo museu da cidade, anfiteatro e área administrativa. À frente das homenagens, Hugo de Castro Machado, diretor Municipal de Patrimônio Histórico e Turismo e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
CONSCIÊNCIA NEGRA
Neste mês dedicado à Consciência Negra, que teve como ponto alto a entronização do retrato de Aleijadinho no Palácio da Liberdade, em BH, e seminário sobre os 10 anos do reconhecimento da comunidade dos Arturos, em Contagem, como Patrimônio Imaterial, o Iepha-MG terá outras atividades no estado. Na quarta-feira (27), em Paracatu, tem encontro com o Quilombo dos Amaros e povos de Terreiro. Já na quinta e sexta (28 e 29), haverá, em Tupaciguara, visita aos Centros de Afromineiridades. Finalmente, no final de semana, será a vez de Uberlândia, com discussões sobre o plano museológico para Terreiros.
Leave a Comment
Your email address will not be published. Required fields are marked with *