De trem, a cavalo e numa barcaça, monarca cruzou o estado, em viagem detalhada em diário escrito a lápis
Gustavo Werneck
Estado de Minas
Em 1881, dom Pedro II (1825-1891) fez uma célebre viagem a Minas, então província, com deslocamentos durante 35 dias pelas regiões do Quadrilátero Ferrífero, Campo das Vertentes e Zona da Mata. Chegou a Barbacena, procedente de trem do Rio de Janeiro (RJ), com a imperatriz Teresa Cristina (1822-1889), registrando tudo num diário mantido hoje no Museu Imperial, em Petrópolis (RJ). O imperador já havia estado aqui, mas não por muito tempo como na visita de 26 de março a 30 de abril de 1881.
“Foi uma viagem exaustiva, de trem, a cavalo e numa barcaça pelo Rio das Velhas”, conta a professora Regina Almeida, do IHGMG, estudiosa do diário escrito a lápis pelo imperador. “Dom Pedro II veio para conhecer a realidade de Minas. Homem de grande cultura, se preocupava com tudo: fauna, flora, mineralogia, geologia, educação, religião, justiça, agropecuária. Chegou a visitar 10 minerações, incluindo a Mina de Morro Velho, onde vestiu a roupa de ‘algodão grosso dos mineiros'”, diz a professora. A visita foi acompanhada por jornalistas, e a Revista Ilustrada, do Rio, publicou um desenho do casal Imperial nos trajes adequados ao local de mineração.
Dom Pedro II, então com 56 anos, tinha planos, mas, oito anos depois, houve a Proclamação da República. “Estava interessado na expansão da ferrovia, tanto que viajou por vários ramais. Era grande administrador, então, em cada uma das províncias (na época, eram 21) que visitou, tinha o olhar político, no bom sentido, e foco nos setores cultural, econômico, artístico, educacional, transporte e serviços públicos.”
Na leitura do diário, acompanham-se os giros do imperador pelas cadeias, com considerações sobre a higiene e o cheiro; às escolas, às vezes com críticas ácidas ao desempenho de professores e dos alunos; às igrejas e capelas, nem sempre agradando ao seu gosto; às apresentações artísticas; e aos teatros, que ganham comparações uns com os outros.
Dom Pedro II, então com 56 anos, tinha planos, mas, oito anos depois, houve a Proclamação da República. “Estava interessado na expansão da ferrovia, tanto que viajou por vários ramais. Era grande administrador, então, em cada uma das províncias (na época, eram 21) que visitou, tinha o olhar político, no bom sentido, e foco nos setores cultural, econômico, artístico, educacional, transporte e serviços públicos.”
Na leitura do diário, acompanham-se os giros do imperador pelas cadeias, com considerações sobre a higiene e o cheiro; às escolas, às vezes com críticas ácidas ao desempenho de professores e dos alunos; às igrejas e capelas, nem sempre agradando ao seu gosto; às apresentações artísticas; e aos teatros, que ganham comparações uns com os outros.
Depois, ainda a cavalo (a imperatriz era conduzida em liteira), o imperador seguiu para Nova Lima, passando por Rio Acima. Em Nova Lima, conheceu a mina de Morro Velho. Entre os dois últimos municípios, uma curiosidade: ele caiu do cavalo, e o desenho da queda foi capa da Revista Ilustrada.
Ainda no roteiro, Sabará, de onde, pelo Rio das Velhas, e Santa Luzia, com visita ao Recolhimento de Macaúbas (atual Mosteiro de Macaúbas). Dessa cidade, o imperador fez um desenho da paisagem, sobressaindo a igreja matriz dedicada à padroeira, e ficou registrada a chegada da barcaça Cônego Santana ao porto próximo à antiga ponte de madeira.
DR. LUND
A seguir, Lagoa Santa, com direito à Gruta da Lapinha e à casa na qual viveu o paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880), falecido no ano anterior (1880). A viagem inclui novamente Santa Luzia, para almoço, Sabará, Caeté, Gongo Sôco, Barão de Cocais, Brumal, Colégio do Caraça (atual Santuário do Caraça), onde proferiu a frase “Só o Caraça paga toda a viagem a Minas”, Catas Altas e Mariana, com passagem pelo Arraial do Inficionado, hoje Santa Rita Durão, Bento Rodrigues e Camargos.
De Ouro Preto, visitada pela segunda vez, o imperador e comitiva passaram por Ouro Branco e Queluz e chegaram à Região do Campo das Vertentes: Santo Amaro (atual Queluzito), Lagoa Dourada, São João del-Rei e Tiradentes.
De Tiradentes, agora sempre de trem pelos ramais, seguiram para Barbacena e depois Juiz de Fora, São João Nepomuceno, Bicas, Sapucaia, Porto Novo, Pirapetinga, Pomba e Presídio (atual Visconde do Rio Branco), Ubá e Além Paraíba, de onde retornaram ao Rio.
CARAÇA
Dom Pedro II falava vários idiomas, e no Caraça, que foi colégio até 1912 (seminário até 1968 e hoje é um santuário com hospedaria), conversou com professores, assistiu às aulas, avaliou o ensino e mostrou sua fluência ao ser saudado em nove línguas e agradecer em todas.
Quem visita o Caraça, em Catas Altas, aberto à visitação e hospedagem, pode ver, no museu, as duas camas feitas especialmente para receber o casal de 11 a 13 de abril de 1881. Na biblioteca do santuário vinculado à Província Brasileira da Congregação da Missão, se encontra exposto um livro sobre “política contemporânea”, de 1867, com observações, nas laterais, feitas de próprio punho.
Mas é na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, primeira no estilo neogótico do país, que os olhos se encantam ainda mais. Em construção na época da visita, o templo ganhou de presente do imperador os vitrais de cinco metros, com o brasão Imperial, que só chegaram da França quatro anos depois. Bem na frente da igreja, dom Pedro teria escorregado na pedra, e alguém marcou o local que virou alvo de curiosidade.
De acordo com a geógrafa e professora aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Márcia Maria Duarte dos Santos, relembrar os 200 anos do nascimento do imperador e sua visita Minas é uma oportunidade para se conhecer um pouco mais sobre a figura de Dom Pedro II. “Ao analisar a viagem de 1881 podemos saber um pouco sobre os interesses do Imperador, um homem ilustrado, além de observar suas motivações, enquanto governante do império, em um período político bastante conturbado.”


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