Gustavo Werneck
Estado de Minas
A manhã de 23 de março de 2016 marca a vida do casal Giovanni Leonardo de Paula e Kenya Adryene Valadares Moreira Cruz, residente no Bairro Monsenhor Messias, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Naquele dia, os recém-casados receberam, no Vaticano, uma benção do papa Francisco, então no período de comemoração pelos três anos de pontificado. Hoje, pais de Leila, de 8 anos, Giovanni e Kenya voltam no tempo por alguns segundos, se alegram pelo encontro feliz, e, na volta ao presente, sentem profundamente o falecimento do sumo pontífice.
“Estamos tristes. Parece que um amigo da gente morreu. Ele foi um papa que agregou, reuniu, não excluiu ninguém. Que o próximo tenha perfil semelhante”, afirma Giovanni, que trabalha numa loja de decoração. Ao lado, Kenya, professora, destaca a importância do legado do líder de 1,4 bilhão de católicos no mundo. “Foi um pontificado de transformações, seguindo na linha de João XXIII (São João XXIII – 1881-1963). Construiu pontes, e não muros. E morreu na Páscoa.”
Na sala do apartamento da família, há quatro porta-retratos. e em todos eles o papa Francisco está presente, com um sorriso: abençoando o casal, olhando o celular da belo-horizontina Kenya, cumprimentando Giovanni, natural de Santa Luzia (Grande BH). “Foi muito especial aquele dia. A cerimônia durou a manhã inteira, falaram em italiano, português, inglês e espanhol. O Pai Nosso foi rezado em latim”, recorda-se Giovanni, explicando que o encontro com Francisco ocorreu de forma inesperada. “E pleno de alegria”.
TRÊS VEZES Naquele 23 de março de 2016, ainda em clima de lua de mel, o casal mineiro, em menos de 15 dias, foi abençoado três vezes: na primeira, durante a cerimônia religiosa do casamento na Igreja Nossa Senhora da Rainha da Paz, no Bairro Caiçara, em BH; depois, de forma inesperada, por um padre na Praça de São Pedro, em Roma; e, finalmente pelo sumo pontífice. Era o coroamento de uma história iniciada havia dois anos e quatro meses, quando se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento. Católicos, namoraram, noivaram e se casaram após o pedido oficial do noivo aos pais da moça.
A viagem de lua de mel foi na Itália, um presente dos padrinhos de casamento e dos amigos. Antes da cerimônia, celebrada em 11 de março de 2016, um amigo da noiva sugeriu o envio de um convite ao papa, pois ele poderia mandar uma bênção. Sem criar grande expectativa, os dois seguiram a orientação, foram ao correio e despacharam a correspondência para a Santa Sé junto com um formulário preenchido, como manda o protocolo. Logo depois do casório, ela recebeu um telefonema que, a princípio, pensou ser de uma operadora de cartão de crédito. Para surpresa das surpresas, a voz era do padre carioca Bruno Lins, atualmente vice-chefe do protocolo (cerimonial) da Santa Sé.
Na conversa, padre Bruno explicava que o papa poderia receber o casal em Roma, onde, coincidentemente, eles estariam. Mas havia dois detalhes: Kenya teria que comparecer vestida de noiva e a próxima audiência estava marcada para a manhã de 16 de março, uma quarta-feira, quase, portanto, em cima da hora. O jeito foi refazer todo o roteiro, que incluía sete cidades italianas. Como as roupas do casamento eram alugadas e tinham sido devolvidas, a professora comprou, de emergência, em BH, um vestido branco e uma flor para prender os cabelos.
Mesmo correndo contra o tempo e de posse dos convites que padre Bruno mandara deixar no hotel, os dois não tiveram o encontro com Francisco naquela quarta-feira gelada. Chegaram à Praça de São Pedro e havia uma multidão, ou seja, naquele dia seria impossível. “Nesse momento de frustração, passou um padre, me viu vestida de noiva e nos deu uma bênção ali mesmo”, conta Kenya. Mas na semana seguinte, com grande antecedência e de posse dos novos convites, lá estavam os dois, desta vez enfrentando um esquema rigoroso de vigilância devido a ataques terroristas em Bruxelas, na Bélgica.
ENCONTRO Na segunda-feira da Semana Santa, Giovanni e Kenya entraram por uma área especial e ficaram num local reservado, com mais 19 casais de vários países. Ao contrário do que pensavam, não havia apenas recém-casados, mas também casais mais velhos. “Quando o papa apareceu, foi um grande alvoroço, muita gritaria, parecia uma torcida de futebol”, ressalta o marido. Depois, o sumo pontífice chegou perto dos casais, se deixou fotografar com eles e pegou na mão de cada um.
No fim, o papa perguntou ao casal de que país vinha. E, diante da resposta, quis saber mais: “De que cidade no Brasil?”. Ao ouvir Belo Horizonte, Francisco comentou, de imediato: “Mineiro é fogo…” A frase não saiu mais da cabeça do casal. “O encontro com o chefe da nossa Igreja, na Semana Santa, ainda mais no Dia do Encontro entre Maria e Jesus, foi uma glória de Deus. Na verdade, é como se fosse um encontro com Deus”, confessa Kenya.
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