Gustavo Werneck
Estado de Minas
Maio é o mês das coroações de Nossa Senhora, das crianças vestidas de anjo subindo ao altar das igrejas, entoando cânticos, para homenagear Maria e o Menino Jesus. Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a tradição se mantém inteira no Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, no Centro Histórico, onde uma cena emocionou os que estavam no templo barroco. O menino Alfonso Luís Vargas coroou a imagem de Jesus, apresentando os singelos versos em libras (Língua Brasileira de Sinais), enquanto a mãe da menina que coroou Nossa Senhora cantava a música.
Filho do engenheiro civil Cid Mantini Viana, luziense, e da engenheira ambiental Leidy Daniela Ávila, venezuelana, Alfonso Luís Vargas Mantini, de 9 anos, se interessou em participar da coroação ao ver a irmã, Olga Daniela Vargas Mantini, de 7, colocando a palma nas mãos de Nossa Senhora, no ano passado. Entusiasmado, revelou seu desejo à mãe. A vizinha Tânia Satiro fez a inscrição do menino na paróquia, e ele começou a participar dos ensaios.
“Ele foi a todos os ensaios. Trata-se de uma iniciativa inclusiva do santuário, e de superação, por parte do meu filho, que está no quarto ano da Escola Municipal Santa Luzia. Ficamos muito felizes”, contou Leidy, que reside na tricentenária cidade há uma década e teve os filhos em Belo Horizonte. De família católica do estado de Portuguesa, ela se lembrou dos tempos de criança, quando coroava a imagem de Nossa Senhora de Coromoto ou Virgem de Coromoto, padroeira da Venezuela.
“MAMÃE, EU TE AMO” Na sala do apartamento no Bairro Nossa Senhora das Graças, Leidy abraça o filho que retribui com “Mamãe, eu te amo”, em libras. Os olhos de ambos se iluminam, quando lembram da missa das 19h30, no primeiro domingo de maio (4), quando Alfonso e Olga estavam entre os “anjos”. Naquele dia, Alice Satiro Rick, de quatro anos, filha de Virgínia Sales Satiro Coelho Rick, coroou a imagem de Nossa Senhora – a prima, Carolina Maria Satiro Ferreira, de 3, colocou o véu. Mas, antes, Virgínia auxiliou Alfonso: enquanto ele se apresentava em libras, ela cantava os versos recém-ensinados por Leidy.
“Foi muito bonito, ainda mais porque a Virgínia tem uma voz linda. Ficamos comovidos e alegres. Espero que outras mães participem e levem seus filhos”, disse Leidy. Igualmente emocionada, Virgínia disse que as crianças acolheram Alfonso “de forma verdadeiramente inclusiva”.
TRADIÇÃO As crianças homenageiam Nossa Senhora com os seguintes atributos: coroa, véu, palma, terço, coração, estrela e flores. A imagem do Menino Jesus recebe a coroa. Antiga tradição no Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, a coroação ocorre nos domingos de maio, ao final das missas das 10h e das 19h30. Para o último domingo (25), está previsto um cortejo com as crianças vestidas de anjo, informa a coordenadora da coroação, Maria Goretti Fonseca Gabrich Freire Ramos, há 40 anos à frente da iniciativa. O santuário tem como reitor o padre Felipe Lemos de Queirós.
MÊS MARIANO Maio é dedicado às mães, e a Igreja Católica dedica o mês a Maria, mãe de Jesus. Em muitas paróquias, na capital e no interior de Minas, são realizadas as coroações a Nossa Senhora, tradição que vem do século 13. Na Europa, tempo de primavera, colhem-se os frutos da terra, enquanto as flores do campo primam pelas cores e perfumes. E isso remete a Maria, “que é considerada a flor mais bela”, dizem os estudos católicos. Ao Brasil, as homenagens a Maria chegaram com os portugueses e, desde então, os devotos realizam coroações neste mês.
Conforme a história, a tradição se solidificou no século 14, e em Paris, França, a figura de Maria ganhou destaque. A mãe de Jesus era simbolizada por uma flor adornada de joias, dando origem às coroações. Foi São Felipe Neri quem começou a dedicar o mês de maio a Maria, fazendo a ela homenagens com flores. Cada elemento que as crianças oferecem a Nossa Senhora tem um significado. A palma representa a pureza de Maria; o véu, sua virgindade; a coroa, a realeza; e as flores remetem à homenagem feita por São Felipe Neri.
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