Prefeito diz que Hospital São João de Deus permanecerá de portas fechadas

Prefeito diz que Hospital São João de Deus permanecerá de portas fechadas
O prefeito interino, Sandro Coelho, mora em Santa Luzia desde os 3 anos

Felipe Santana Rick, Luzias

Santa Luzia nunca se sentiu tão desprotegida, tão descrente da capacidade do poder público para solucionar os gravíssimos problemas da cidade. Em pouco mais de dois anos, quatro pessoas ocuparam a cadeira de Prefeito, e pode haver um quinto, dependendo do resultado das eleições municipais, que devem ser realizadas no final de agosto ( leia Santa Luzia poderá ter eleições em agosto). Seis candidatos já estão se posicionando, entre eles o prefeito interino, Sandro Coelho, há cinco meses no cargo. Embora tenha servido um mandato e meio como vereador, antes de se tornar Prefeito interino, o ex-diretor da Escola Leonina Murthé, em São Benedito, é praticamente desconhecido na região central de Santa Luzia.

Nesta entrevista exclusiva, concedida ao Luzias na segunda-feira, 9 de abril, na sede da Prefeitura,na Frimisa, você vai conhecer algumas das ideias do atual administrador de Santa Luzia. O Prefeito fala de sua infância em São Benedito, onde chegou ainda menino; conta das famílias dos alunos da Escola Leonina Murthé que lhe deram a maioria dos votos para se eleger vereador pela primeira vez. Comenta sua chegada à Prefeitura, no rastro do escândalo que afastou a chapa eleita em 2016, Roseli/Fernando César. E faz muitas promessas, como se realmente estivesse em campanha para conquistar, pelo voto, o cargo de Prefeito.

Quando perguntado sobre a questão de equiparação dos professores contratados com os concursados, ele respondeu que “foi tudo regularizado, a questão de salários e todos os direitos.” Prometeu que haverá concurso até o final do ano. Disse que está resolvendo o problema da alta taxa de iluminação paga pelos moradores e que o Hospital de São João de Deus deve permanecer fechado.

Leia a entrevista:

Eu sou morador de Santa Luzia há 41 anos. Nasci em Manhuaçu. Vim para cá com três anos de idade, estudei nas escolas públicas da região, sendo que a primeira escola em que estudei foi o Jardim da Dona Iracema, uma escolinha antiga da cidade que fica na Rua Primavera, duas ruas acima da Avenida Brasília. Depois estudei na Gervásio Lara e no Leonina Mourthé. No Leonina, eu estudei e depois retornei para dar aula de educação física e acabei sendo diretor por 14 anos.

Então, minha família é toda aqui da região, meu pai era servente de pedreiro, trabalhou na construção do Conjunto Cristina, e minha mãe professora, também do Leonina, aposentou lá, e logo que ela aposentou eu entrei para dar aula. Moro na região, conheço a cidade, ando por ela, construí minha vida toda dentro do bairro do São Benedito.

Como você entrou para a politica?
Nessa época de diretor eu já me envolvia com muitos projetos. Projetos de voluntariado, aulas de violão gratuitas, tudo dentro da escola, ainda sem estar envolvido com a política. Eu gostava muito de levar parcerias para dentro da escola, uma vez consegui uma parceria com o Instituto Unibanco, onde eu consegui colocar R$500.000,00 (quinhentos mil reais), isso em 2008, era um prêmio do Big Brother à época, com esse dinheiro nos reestruturamos a escola toda, se você jogar na internet você acha a comparação do Leonina o “antes e depois”. Então sempre fui voltado para isso, mas ainda sem entrar na politica.

Depois disso eu iniciei um projeto na escola chamado Liderança Escolar, formando líderes de turmas. A região era muito dominada pelo tráfico de drogas, então eu comecei a trabalhar a questão das lideranças. Eu me capacitei para ser líder, e reproduzi em meus alunos. Com esse projeto nos ganhamos prêmios do Instituto Unibanco, da Fundação Pitágoras, e esse projeto mudou o perfil de “chefe de turma” para “líder de turma”, onde os líderes tinham muitas responsabilidades e ajudavam a administrar a escola, e eles recebiam cursos como de oratória, de planejamento e outros. Então havia uma disputa muito grande na escola para ser líder, porque eles viram que é vantagem ser líder.

A Escola Leonina Murthé, em São Benedito, onde Sandro Coelho foi professor e diretor

Esse foi o projeto que me despertou para a politica. Porque eu via a questão da falta de liderança na cidade. Então, em 2012, eu me candidatei a vereador pela primeira vez, e a escola me elegeu, eu tive mais de 900 votos somente dentro da escola. Na verdade ,os próprios alunos me incentivaram a concorrer como vereador.

Então eu me elegi a primeira vez em 2012 e me reelegi em 2016, e no primeiro ano do segundo mandato eu me tornei o presidente da câmara e ganhei novamente em 2018, então até 31 de dezembro sou Presidente da Câmara. O João Binga está lá interinamente, assim como estou interinamente como prefeito.

E como prefeito interino, quais são os seus planos?
Quando eu cheguei à prefeitura a primeira coisa que fui saber é a questão das finanças. Nós encontramos uma situação difícil, muitas dívidas com fornecedores, dívidas de pessoas com a prefeitura. Assumi a primeira vez em junho do ano passado e fiquei apenas 12 dias no cargo. E retornei em outubro. Já completei cinco meses no cargo. Até que marquem novas eleições, estou aqui cumprindo a função.
Nessa segunda vez em que assumi, eu já peguei mais firma com relação à administração. Porque a iminência da volta da prefeita na primeira vez era muito grande, era certa, então, era algo bem provisório. Agora eu já consigo planejar. Nós entramos pensando prioritariamente em infraestrutura, educação e saúde, que são os pilares de tudo. Não ficar apenas no planejamento, mas executando. Você vê que eu cancelei o carnaval da cidade para investir na educação. O dinheiro que seria usado no carnaval, que seria mais ou menos 1 milhão e 300 mil reais, nós compramos material escolar para todos alunos, mochila, uniformes e tênis.

Falando em educação, o que tem sido feito nessa área para melhorar os índices da cidade?
A primeira coisa é a infraestrutura. Nós ampliamos 90% das escolas, para que? Para atender a demanda de alunos. Construímos salas, algumas até locadas, que são salas em contêiner. Isso porque não planejaram essa entrada dos alunos na educação em 2018. Então quando eu cheguei aqui havia praticamente 3000 mil alunos sem escola. Não havia onde colocar os alunos. Como é muito difícil e burocrático fazer novas escolas nós ampliamos as já existentes. Uma média de 3 a 4 salas por escola. Dessa forma nos conseguimos absorver a demanda e já estamos planejando o ano que vem. Por que tudo é na base de planejar o futuro. Então estamos investindo em professores, cumprindo o piso nacional determinado para o salário deles.

Como está essa questão de equiparação dos professores contratados com os concursados?
Fui tudo regularizado, a questão de salários e todos os direitos. Hoje o efetivo contratado tem tudo equiparado. Não tem mais essa divergência. E nós vamos realizar o concurso público na área da educação. É um objetivo traçado, que até o fim do ano vamos concretizar.

Com relação às UMEIS (Unidade Municipal de Educação Infantil)? Existiam denúncias de unidades que foram construídas e nunca foram utilizadas, como anda isso?
Nós perdermos nove Umeis. É um problema que veio de gestões passadas. E agora nós estamos tentando adquirir novas Umeis. Em 2013, veio o projeto, chegaram a começar a implantação, mas como não houve sequência o município perdeu essas Umeis, que hoje fazem falta. Então, estamos em contato direto com o Ministério da Educação, em Brasília, para tentar conseguir novas Umeis para atender á população. Já tivemos duas conversas boas e eu creio que duas ou três pelo menos, nós vamos conseguir. A liberação vai ser ainda esse ano e depois vem a construção.

O Hospital de São João de Deus, fechado há três anos, permanecerá com as portas fechadas

Foi inaugurado recentemente o P.A Sede, quais são os planos para melhorar a saúde em Santa Luzia?
Foi entregue a obra, dia 16 de abril deverá ser aberto para atendimento aos munícipes. Agora é um período de desinfecção do local, calibragem dos equipamentos, capacitação da equipe que trabalhará no local.

Uma questão que sempre vem à tona quando se fala em saúde em Santa Luzia é a situação do Hospital São João de Deus. A abertura desse P.A significa que não há chances de reabertura do hospital?
Nós tivemos algumas conversas com o pessoal do São João de Deus, fizemos algumas propostas para a prefeitura administrar o hospital, mas não tivemos êxito nisso. Também fizemos uma proposta de fazer uma parceria com uma faculdade de medicina, para lá virar um hospital escola e também não tivemos êxito.

Por quê?
Não houve êxito nas negociações com a Irmandade. Eles não aceitaram as propostas que foram feitas. Agora, será a última tentativa: vamos ver outra empresa particular que possa alugar ou absorver alguma parte do hospital. Mas, o hospital tem uma dívida muito alta, mais de 12 milhões de reais, de um empréstimo que eles fizeram, fora a dívida trabalhista. Inclusive há valores que parece que a prefeitura tem que repassar para eles, algo em torno de 900 mil reais, que estamos avaliando se é devida mesmo. A gente deve pagar, mas passando diretamente para os funcionários. Não é desconfiando da Irmandade. Achamos que assim será o ideal.

Então, a possibilidade de retornar como era antes, com a Irmandade administrando, você acha que é inviável?
Neste momento é inviável, mas nós vamos procurar a solução para isso.

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O hospital Madalena Calixto atenderá como atendia o São João de Deus?
Não como era o porte de lá, mas com essa ampliação que estamos fazendo agora, construindo mais 24 leitos que, junto com os que o Madalena já tinha, vão somar mais ou menos 70 leitos, vamos atender. E isso ajuda a prefeitura a receber mais recursos. Quando a gente abre a porta do P.A novo, a gente já consegue trazer mais recursos estadual e federal para a cidade.

O Sr. citou a possibilidade de uma empresa particular administrar o hospital. Atualmente, quem administra essa área – os PAs e o hospital Madalena?
Hoje, nós temos a Instituição Bom Jesus (do Paraná) que administra os PAs e o hospital. Temos um contrato emergencial com eles, e enviamos, há pouco tempo, uma lei para a Câmara, que é a Lei da OS. Através dela poderemos abrir um processo licitatório. Não tinha essa lei antes, precisávamos passar isso pela Câmara, porque ela regulamenta essas empresas. A lei já foi votada e eu já sancionei. O contrato emergencial com a Bom Pastor acaba em maio e, então, já vamos fazer a licitação.

Fale um pouco da infraestrutura que você citou como prioridade…
De infraestrutura é a operação tapa buraco, que é muito necessária nessa época de chuva, já estamos entre 80% e 90% para finalizar. Essa operação é uma situação emergencial também, porque quando nós assumimos a prefeitura ela não tinha esse serviço. Não tinha empresa pra prestar esse serviço. E a prefeitura ainda devia para as empresas que prestaram o serviço no passado. Então, a empresa que presta serviço de tapa buraco é contrato emergencial, mas em breve vamos lançar o edital para contratar também.

Outro contrato feito em caráter emergencial foi a do serviço de troca de lâmpadas. Quando chegamos a prefeitura tinha sete meses que a cidade não tinha esse serviço. Também vamos fazer uma licitação para contratar uma empresa que fique mais tempo. Estamos, inclusive, finalizando esse processo de contratação dessa empresa.

O novo hospital abrirá as portas nesta segunda-feira, 16 de abril

Há um questionamento da população da taxa de iluminação pública na cidade. Santa Luzia tem a taxa mais alta de toda Região Metropolitana. Isso está no horizonte para ser revisto?
Já pedimos uma comissão interna nossa, que inclusive já foi a Cemig, que fará um estudo para entender essa questão da iluminação pública. Entender o cálculo, para chegar nessa taxa de hoje e quais investimentos foram feitos justifiquem essa taxa. E o objetivo é buscar a sua redução. Se não me engano, na época, o prefeito tinha a ideia de fazer várias ampliações de redes, que realmente foram feitas, como na Avenida das Indústrias e Avenida Brasília, que são todas iluminadas com lâmpadas de LED. Então, eu não sei se a taxa era por conta desse investimento que foi feito, mas a nossa comissão vai fazer esse levantamento.

Outra questão de infraestrutura é o viaduto Geraldo Magela Barbosa, inaugurado pouco antes das eleições e pouco depois foi interditado. Hoje, está pela metade. Foi muito criticado por parecer ser uma obra eleitoreira: levou dois anos para ser construído e, teria sido gasto uma boa quantia em dinheiro com essa obra, que nunca atendeu a população. Qual é a situação, hoje?
A empresa que prestou o serviço nessa obra já foi notificada judicialmente pelo Ministério Público e ainda esse mês deve ter uma audiência na Câmara para tratar desse assunto, porque a prefeitura solicitou ao Ministério Público uma ajuda para resolver o problema e tentar a reabertura do viaduto. A empresa deve ser responsabilizada por essa obra.

Outro assunto recorrente que ouvimos muitas reclamações é o trânsito na cidade, principalmente na região do São Benedito, mais precisamente no trecho da Avenida Brasília com Rua Alvorada. Quais os planos para resolver esses problemas?
Já temos um estudo de melhorias no trânsito daquela região. Projetos de mudança de mão de direção de algumas ruas, de implantação de estacionamento rotativo na Avenida Brasília e duas ruas acima e duas ruas abaixo dela. Tudo isso já está encaminhado, porque hoje o trânsito atrapalha inclusive o comercio da região, se a pessoa quiser comprar ali não tem onde ela estacionar. E também há um estudo para alterar o tipo de semáforos que temos aqui, colocar alguns mais modernos.

Santa Luzia aparece constantemente em alguns estudos como uma das cidades com maior índice de criminalidade na Região Metropolitana. Há projetos para mudar esse cenário?
Na gestão anterior, não havia uma parceria com a Policia Militar. Nós retomamos essa parceria. Provavelmente, este mês ainda, nós iremos junto com a PM entregar o 35º batalhão, que é aquele que fica ali na Avenida Frimisa, no caminho para São Benedito. Essa construção foi uma parceria nossa: a prefeitura doou e terraplenou o terreno e o Estado construiu. A nossa ideia é trazer o Comando Regional para Santa Luzia. Dessa forma, garantiríamos um efetivo maior para a cidade. Para isso, já estamos conversando muito com o Comandante da PM e com o Governo do Estado, para garantir esse efetivo. Só de ser instalado o comando em nossa cidade já garantimos mais segurança para o munícipe.

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1 Comment

  • Edmilson Fernandes Pinheiro de Sousa
    15 de abril de 2018, 23:35

    Boa noite.
    Fiz a leitura completa do enunciado do prefeito interino. Achei louvável suas ideias. Desde de que sejam realizadas. Falam das mudanças que são prioridade do momento. Espero que mesmos tratando de todo este assunto de grande relevância para a cidade, vejo que ainda é importante que se tenha o impeachment. Temos que eleger àquele que melhor possa fazer pela nossa Santa Luzia. Seja o interino ou outra de preferência do povo. Espero que nossos vereadores tenham a mesma opinião, a final de contas, lutamos pelo mesmo objetivo, uma cidade melhor para se viver. Com segurança, saúde e educação em primeiro lugar.

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